A primeira semana custou, no fim-de-semana, quase que não conseguia sentar-me na sanita, tais eram as dores nos musculos. Pegar nos miúdos era o supremo sacrificio e quando eles me pisavam os doridos musculos um esgar seguido de um "obrigadinho filho(a), estava mesmo a precisar disso". Ontem já correu melhor, até porque fazer exercício em cima dos musculos doridos, ajuda a passar a dor (so I think), e já estou melhorzita.
Soube-me bem, soltar a adrenalina, trautear umas músicas e suarrrr, suar muito. Bem bom!
No entanto, ainda não consegui cortar o cordão umbilical, fico sempre remorseada a pensar neles, e porque não estou com eles... Eles também ao que consta à hora do almoço ouvem chegar um carro e dizem: "Mamã!", e durante o dia lá vão chamando por mim... Coitadinhos.
Tenho andado a ler um pouco de tudo por este nosso pequeno mundo, quando tenho um bocadito ou quando já estou há algumas horas a trabalhar e preciso descansar um pouco, pairo por aí... Tenho seguido na nossa amiga Susana Pina, os posts sobre os custos dos tratamentos de fertilidade, os tempos de espera, e tenho lido os respectivos comentários (alguns infelizes).
Quase todas nós que por cá andamos há algum tempo sabemos a exorbitância dos preços dos tratamentos, e dos medicamentos. Todas nós sabemos que existe um "grande" negócio por detrás da infelicidade de milhares de casais deseperados.
As consultas e tratamentos nos hospitais públicos teimam em não chegar, até porque na maior parte dos casos não há interesse, porque os médicos que fazem nos públicos fazem na privada, e a "coisa" rende mais no privado, ou porque é impossível fazer um maior número de tratamentos com médicos que trabalham só de manhã e de tarde vão para os privados. Os casais, aqueles que têm algum fundo de maneio, lá vão tentando nesta ou naquela clinica, neste ou naquele médico, e fazem 1, 2, 3, ... 15 tratamentos. Alguns têm a sorte de a natureza estar a seu favor e lá conseguem, outros com casos mais complicados, lá vão andando sem que ninguém se ilumine e diga: "Oh pá estes tipos já fizeram N tratamentos sem resultado, vamos a ver porque não resulta!"
É certo que não podemos "meter" todas entidades intervenientes nestes processos no "mesmo saco", até porque a maioria das pessoas que tenha um pouco de interesse e siga alguns fóruns relativos à infertilidade, cedo se apercebe onde estão as clinicas que apresentam resultados e as que não apresentam... É só procurar!
Eu sempre pensei que o ideal seria fazer um tratamento destes num centro público, porque, ali o interesse é nulo. Ou seja, como não pagamos nada (só os medicamentos), não há o interesse do vil metal, ou seja se resulta resulta, se não resulta paga-se o mesmo. Por isso mesmo é que fiz o meu único tratamento num hospital público.
Reconheço que fui uma privilegiada, não só pelo excelente resultado, como também pelo excelente médico que tive a sorte de encontrar no meu caminho e que deu todos os passos comigo. Não foi homem de "empaliar", sempre pôs o preto no branco e eu comecei por onde muitas terminam os tratamentos. Não andei a fazer exames e mais exames, IUUs, IAs, estimulações e outras coisas que tal. Depois das análises hormonais e espermograma, e uma vez que estavam ambos com valores dentro dos normais, fiz uma laparoscopia de diagnóstico (que o meu rico seguro de saúde pagou) e uma vez que não havia nada de muito grave partimos para a FIV, a qual foi denominada teste de fertilização para vermos se os gâmetas fundiam ou não em laboratório, para vermos se poderia existir ou não algum outro problema subjacente. Felizmente não houve e o resultado todos conhecem.
Se nos abstrairmos do preço violento dos tratamentos no privado, e considerarmos que temos a sorte de ir para um público, não podemos ignorar o preço da medicação. Na altura acho que até escrevi algo sobre isso. E temos de considerar que infelizmente muitos são os casais que nem sequer para a medicação têm dinheiro. Existem casais cujos rendimentos são 2 ordenados mínimos mensais, esses casais não podem sequer comprar a medicação.
Antes das férias surgiu-me uma situação dessas. Numa das empresas onde trabalho, os operários não qualificados não são muito bem pagos, rapazes jovens, cujo rendimento mensal ronda os 700 Euros, a mulher também operária, noutra empresa ganha o ordenado mínimo. São jovens, pagam uma casita, e queriam ter filhos... A História todos sabem... Foram encaminhados para o hospital aqui da zona, que por acaso tem serviço de Medicina de Reprodução, e chegaram a marcar o tratamento, protocolo, etc. Só que ninguém lhes disse quanto custaria a medicação, chegaram à farmácia e voltaram para trás porque não tinham dinheiro, as famílias também com parcos rendimentos não tinham para emprestar. Até que o rapaz veio falar comigo e contar-me a situação, para ver se seria posssível conceder-lhe um empréstimo sobre o salário, para ir descontando por mês... Sem entrar em grandes pormenores, lá lhe fiz ver que este poderia ser o primeiro de muitos tratamentos e o primeiro de muitos dinheiros que eles iam precisar (os pobres julgavam que eram favas contadas... Ninguém lhes disse que as percentagens de sucesso são em muito inferiores aos sucessos), mas emprestei-lhe o dinheiro. Felizmente a sorte esteve do lado deles, vão ter uma menina, o dinheiro ele ainda não sabe mas vou oferecê-lo como presente para aquela menina que vai nascer, nunca tive intenção de lho cobrar, mas também não lhe poderia dar outro se esta tentativa não tivesse dado certo... É a vida...
Beijos a todas