quinta-feira, julho 31, 2008

Só falta um bocadinho assim...

Com as férias à espreita, por cá o tempo vai escasseando, e a cabeça cansada com tanto trabalho a ser feito e a deixar preparado, não anda também muito inspirada para escrever.

No entanto, esta é uma altura do ano carregadinha de recordações, das quais é dificil estar abstraída, acho que cada dia tem um significado especial com o culminar no dia 4 de Agosto. Foi há 2 anos e ainda parece que foi ontem... O tempo voa, simplesmente voa.

Os nosso pipizes estão grandes, espertalhaços e traquinas. Amanhã vamos ao Pediatra para fazermos uma revisão antes de irmos de férias, depois se puder faço o relatório. De resto, como algumas de vós poderam ver, estão o máximo (ou não fossem meus filhos claro...).

Beijos a todas

segunda-feira, julho 28, 2008

Ainda a propósito da Quinta da Fonte

E porque o que bem se escreve deve ser divulgado, eis aqui um texto que considero muito interessante e sobretudo muito verdadeiro. Grande Mário Crespo!

Limpeza étnica - Mário Crespo

O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. 'Perdi tudo!' 'O que é que perdeu?' perguntou-lhe um repórter. 'Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem...' Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga 'quatro ou cinco euros de renda mensal' pelas habitações camarárias.

Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que 'até a TV e a playstation das crianças' lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam 'quatro ou cinco Euros de renda' à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a 'quatro ou cinco euros mensais' lhes sejam dados em zonas 'onde não haja pretos'.

Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - 'ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos.'

A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala.

Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.

quarta-feira, julho 16, 2008

Mais teorias

Antes de iniciar o périplo das teorias, aproveito para informar que os pips fizeram ontem 16 meses.

Estão enormes, o L tem à volta de 87 cm, e a M. 86. Correm tudo, mexem em tudo e principalmente ele, só faz asneirada... Ela já fala imenso e repete tudo o que dizemos, adoro a maneira como diz "tiaaaa", "Vacaa", "Camaa", "meninaa", tudo dito de uma forma muito certinha dando enfâse à última vogal, é linda. Ele mais trapalhão, lá vai dizendo umas palavritas atabalhoadas.

Em termos verbais, ela é mais desenvolvida, em termos motores sempre foi ele o mais desenrascado e continua a ser. Sobe para cima de sofás, cadeiras, camas, a maior parte das vezes acaba estendido no chão a chorar. Pendura-se em tudo e à conta disso já levou com uma mesinha de cabeceira em cima. Não posso perdê-lo de vista um instante, e mesmo assim elas vão acontecendo.

Em termos de sono (aí vêm as teorias), também, são muito diferentes os meus filhos.

Acho muito bonito que mães, amigas minhas e não só, teorizem acerca dos maus hábitos de dormir dos filhos dos outros. Quando me perguntam acerca dos hábitos de sono dos meus filhos eu até prefiro nem falar. Aparece sempre alguém pronto a dar um palpite, e como eu não pedi nenhum prefiro ignorar.

Os meus filhos, sofreram muito com as cólicas. Principalmente a M. passava horas a berrar e a contorcer-se com as ditas. Apesar disso, conseguíamos que tivesse um sono mais ou menos certinho à noite.

Já o L. sempre foi um bebé que apesar de não ter tantas cólicas como a irmã, sempre teve um sono muito instável, acordava e acorda muitas vezes durante a noite, chorava, queria companhia. Claro que numa fase inicial, a pessoa levanta-se 15 vezes durante a noite para ir acalmá-lo na caminha dele, mas depois, já derrotada pelo cansaço, a pessoa começa a trazer o puto para a nossa cama, e ele sossega, e nós sossegamos, e todos ficamos contentes.

Neste cenário, aos 3 meses tínhamos os putos a dormirem no seu quartinho, os dois, só que a verdade é que passávamos a noite em romaria, porque o L. acordava a chorar, a M. também acordava e tinhamos o circo montado várias vezes por noite. A coisa foi-se aguentando até que eu comecei a trabalhar a tempo inteiro outra vez. Depois disso, tomou-se a decisão de separar os gémeos... E os pais... Um fica num quarto com um, o outro com outro... (A mim calhou-me o jovem L. que dorme mal como o caraças...)

A psicologia é muito bonita... Mas é quando não se tem de trabalhar ao outro dia, ou não se tem trabalho de responsabilidade...

Evidentemente esta solução, apesar dos contras que tem, é uma solução boa para todos, porque conseguimos dormir umas horas seguidas, e até já umas (poucas) noites seguidas. É muito bonito ouvir mães cujos filhos dormem toda a noite desde os 2, 3 meses dizerem que se deve fazer assim e assado.

A verdade é que cada criança é um caso, e não devemos generalizar. Lembro-me de uma altura em que andava à procura de textos sobre "cosleeping", e encontrei um texto de um dos gurus da pedopsiquiatria americana, basicamente do que me recordo, e que foi realmente aquilo que achei importante foi o homem dizer que quando tinha tido o primeiro filho tinha seguido todas as teorias à risca, e tinha dado tudo errado. Então quando teve o segundo filho, comprou a cama maior que conseguiu encontrar...

Às mães que têm sorte que os filhos durmam toda a noitinha nas suas caminhas sem um suspiro sequer: Parabéns!

Às outras mães, cujos filhos acordam várias vezes por noite (o meu ainda esta noite acordou às 4 queria festa, dei-lhe leite às 5, e ele ficou acordado até às 6, e eu também), tenham paciência não estão sózinhas...

Beijos a todas

segunda-feira, julho 07, 2008

Era uma manhã soalheira de Outubro, daquelas cujo sol baixo ofusca, mas já não aquece muito. A Avenida ia pejada de risos e conversas dos estudantes com capas e livros, que seguiam a caminho da escola.



Era um cenário habitual na década de 80, os autocarros internos e externos deixavam ficar a estudantada que depois se juntavam aos que vinham a pé de casa, e todos juntos enchiam o ar com aquele burburinho prazeiroso que ainda recordo saudosamente. Hoje ao fazer o mesmo percurso, vinda de casa, dentro do carro, verifico que a Avenida está deserta, em proporção aumentou a número de carros que levam os estudantes agora até à porta da escola.



Íamos as três, eu a J. e a G., na bagageira uma qualquer conversa sobre um qualquer rapaz por quem andassemos a suspirar, ou outro qualquer assunto leve que caracterizava a conversa de três adolescentes de 16 anos.



De repente, a travagem brusca, o barulho de metal a chocar, a bater e a deslizar sobre o asfalto. De repente, um corpo a rebolar aos nossos pés. Aqueles segundos que parecem horas e a rapidez dos movimentos que parece em câmara lenta.



- É o irmão do B. - disse eu ao reconhecer o jovem motociclista caído.



Baixei-me para lhe falar, para ver se estava bem... Ele rapidamente se levantava também, e tentava ver se estava tudo inteiro. Ajudei-o a tirar os livros e o capacete, e suspirei de alívio, aparentemente, aquele rapaz tinha tido só um grande susto, e nós também...



Entretanto aparece um outro amigo que se prontifica a levá-lo ao hospital, porque as mãos sangravam e não conseguia mexer uns dedos. Fiquei com o capacete, com os livros, enquanto outro alguém tratou da mota, prometi que num intervalo lhos ia entregar à escola vizinha, quando ele chegasse do hospital.



Seguimos o nosso trajecto um pouco mais silencioso agora. Fomos para a primeira aula a pensar naquele acidente, e no que realmente poderia ter acontecido ali mesmo debaixo dos nossos olhos.



Nos intervalos ia espreitando para a escola vizinha (eram 2 escolas secundárias, uma em frente à outra, ainda são) para ver se via o rapaz, o irmão do B. Ao meio da manhã lá o vislumbrei e fomos lá levar os seus pertences e inquirir acerca do seu estado. Estava bem, com dois dedos partidos, tinha sido só o susto.



Nos dias seguintes, lá ia ele passando pela escola de cima e nós pela escola de baixo para sabermos como estava.



E foi ali, naquela manhã de Outubro, em finais de 1986, que aquele que viria a ser o pai dos meus filhos, 20 anos depois, me caíu aos pés... O destino tem destas coisas.



Beijos a todas