quarta-feira, abril 26, 2006

Rendida às evidências!



O solzinho, na verdade tem efeitos terapêuticos, e consegue verdadeiros milagres no nosso estado de espírito.
No fim de semana e no feriado, aproveitei para pôr o bronze em dia, e apesar de ter passado mais um ciclo inglório, acho que até estou bastante bem.
Com o passar dos meses, sem a obtenção de nenhum resultado prático, da cirurgia e dos treinos, cresce no meu interior a firme convicção de que não vai ser fácil, de resto também ninguém disse que ia ser...
Cada mês que passa torna mais dificil a obtenção de uma gravidez natural, devido à endometriose. Mas, também cresce em mim a certeza de que a endometriose não será a causa real da incapacidade, deve ser outra coisa qualquer mais complicada. Até porque o grau da endometriose era muito baixo...
Enfim, com o tempo começo a render-me às evidências e a preparar-me interiormente para ir deixando ficar para trás a esperança...
Haja muito solzinho e bom tempo, que disso é que precisamos!
Beijos a todas

quinta-feira, abril 20, 2006

"Rainy days..."


Quando a Primavera teima em não chegar, a chuva não vai embora, e o trabalho não dá tréguas... nada melhor que um bom relax...

Infelizmente, limito-me a olhar para a imagem do gato, que digo desde já, tem mais sorte do que eu, que já há muito tempo não sinto o privilégio de uma boa massagem. Aliás digo-vos, ando a precisar de ir pintar o cabelo e nem tempo tenho...

Por vezes olho para a minha vida e questiono se a estarei a orientar da melhor maneira, esta corrida desenfreada, as noites sem dormir, os cabelos brancos que não param de aparecer (daí a tinta!), um stress ilimitado, que contribuí com certeza em grande parte para esta ausência de descedência prolongada, esta falta de tempo crónica... Mas a verdade é que gosto da agitação, da adrenalina, da correria, dos desafios.

Enfim, as minhas mosquiteiras e as minhas incursões na blogoesfera têm ficado prejudicadas, desde já as minhas desculpas.

Beijos a todas

segunda-feira, abril 17, 2006

"Carta aberta a uma Amiga..."


Hoje estou de regresso das minhas mini férias na praia... Ah pois é! Estou aqui com um escaldão que nem imaginam. Isto de estar de perna ao léu a ler tem muito que se lhe diga... e "mea culpa", estou num estado lastimável.


Espero que tenham passado uma excelente páscoa, eu por cá estive como já disse a tentar fazer um bocadito de praia... ora como não deu, porque a nossa amiga chuva persiste por cá, ontem lá fui a uma daquelas reuniões familiares... Mais não digo! Hoje o solzito lá apareceu e vai aqui a mulher decidiu que tinha de investir um bocado no bronze... asneira!


Este "post", no entanto, não é para falar disso, é porque hoje a vida pregou mais uma rasteira a uma amiga. A Tiquinha. E por isso é para ela que escrevo hoje:


Querida Amiga,

Foi com grande tristeza que li a notícia de que os teus "congeladinhos" não acordaram do seu sono gelado. Para ser honesta, tanto tu como eu sabíamos que essa possibilidade era a mais provável. No entanto, ambas esperavamos que acontecesse algo de bom neste processo e que aquela pequenina percentagem de sucesso estivesse ali presente na hora da verdade.


É certo que, eu deste lado encarava essa hipótese com mais frieza do que tu, porque, amiga, bem sei, que desse lado daí acreditaste até ao último momento. E acredito que no momento em que recebeste a chamada, ainda ficaste esperançada que tivesse sido um erro qualquer.


Não foi! Ficaste destroçada, bem sei! Quando falamos tentaste parecer animada, eu tentei animar-te... era da praxe. No entanto, sei que foram ocas as minhas palavras, porque eu também não sabia o que dizer para aliviar a tua dor. No fundo do teu ser sei que acreditaste, porque eu também acredito. Mesmo nos momentos em que sei que é irracional acreditar, existe sempre uma vozinha cá dentro que diz - "É possivel!".


Sei que vais ter de passar este momento sozinha a "lamber as tuas feridas", e que vais conseguir avançar e que vais voltar a acreditar. Mas sei que não vais esquecer o peso da frustração porque eu também não consigo esquecer o peso da minha. Sei que vais continuar a sorrir por fora e a chorar por dentro porque é também o que faço.


Amiga, Quero que saibas que ao longo da caminhada vais contar com o meu apoio incondicional, e que provavelmente faremos juntas uma parte do percurso, desta longa caminhada que é a infertilidade. Que uma de nós consiga chegar ao fim, já é bom, se chegarmos as duas melhor ainda (as três "sorry" Alex), e que consigamos encontrar umas nas outras o apoio de que precisamos para manter estável este equilibrio tão precário que nos faz andar entre a loucura e a sanidade mental.


Beijos para ti Amiga


PS - Espero que gostes das flores são para te animares!!

terça-feira, abril 11, 2006

O encontro das "Mosquiteiras"

Como muitas já saberão, no Sábado passado, houve o encontro das "Mosquiteiras". Já vi pelas reacções no Bloga da Alexandra, que muitas ficaram tristes por não saberem do encontro. Ora, então passo a explicar:
Em primeiro lugar, isto de falar do encontro do passado Sábado quase a chegar a outro Sábado, não está com nada, mas o trabalho tem destas coisas, e ainda por cima eu devia estar oficialmente de férias. Portanto, já estão a ver, nem férias, nem tempo para fazer os meus comentários no blog. Isto realmente não há quem mereça...
Em segundo lugar, este encontro entre as meninas denominadas "Mosquiteiras", nada teve de segregacionista para as outras meninas nossas amigas e companheiras de luta. Aconteceu apenas porque entre nós "Mosquiteiras" se criou uma empatia especial, porque ao falarmos umas com as outras acabamos por descobrir que temos muitas coisas em comum: O sítio onde fazemos tratamentos, as profissões dos maridos, gostos comuns, etc.
Assim, decidimos oficializar as nossas conversas no messenger, com o conhecimento pessoal, principalmente o meu, porque a Alexandra e a Tiquinha já se conheciam.
Confesso, que não andava nada virada para isso. Quando comecei estas incursões na blogoesfera, não era de todo intenção minha "envolver-me" pessoalmente com ninguém, porque a interacção pessoal torna muito mais onerosa qualquer relação. É fácil, para nós opinarmos sobre os blogs e sobre os pensamentos alheios, porque estamos distanciadas, não conhecemos. No entanto, quando essas pessoas passam para a nossa esfera de conhecimento pessoal, e se tornam pessoas pelas quais nutrimos sentimentos de amizade, as coisas tornam-se mais dificeis.
Estas são algumas das razões porque nunca fui a nenhum dos encontros, e porque estive um pouco relutante em ir encontrar as "Mosquiteiras". Desde Sábado, estas minhas amigas passaram da esfera virtual para a esfera pessoal, o que acarreta uma responsabilidade maior.
Adorei conhecer estas novas amigas. São estupendas! Quando nos encontramos parecia que já nos conhecíamos há anos! Passamos um tempo estupendo juntas!
Isto de passar do virtual ao real tem muito que se lhe diga, e devo dizer-vos que se há 6 meses atrás alguém me dissesse que eu estaria a combinar encontros (ui! Isto soa a traição!) com pessoas que conheci através da internet, eu provavelmente diria a essa pessoa que estaria a precisar de tratamento. No entanto, tem sido tão mais fácil para mim partilhar convosco, companheiras de luta, esta faceta tão sombria da minha personalidade. Tem sido tão mais fácil aceitar as desilusões deste processo tão difícil, sabendo que estais desse lado, e que percebeis perfeitamente aquilo por que estou a passar, porque vocês também passam e sentem o mesmo...
Enfim, obrigada pelo vosso carinho! Mesmo não vos conhecendo pessoalmente (ainda) torço da mesma forma por todas e sei que torcem também por mim.
Beijos a todas

quinta-feira, abril 06, 2006

O primeiro passo

Ontem demos o primeiro passo para o nosso primeiro tratamento de infertilidade. Fomos a uma consulta de psicologia. Sim, porque no hospital onde andamos, não se faz nada sem se fazer primeiro a consulta de psicologia.

Confesso que ia um bocado céptica, mas o meu cepticismo desfez-se rapidamente no momento que transpus a porta do gabinete. Não esperamos muito tempo, o que aumentou o boa disposição claro. Ir a um hospital público e não aguardar mais do que 10 minutos é de facto de estranhar.

O gabinete, ao contrário da sala de espera era muito arejado e com um ambiente confortável, até acolhedor. Entramos, e ela começou logo a falar muito simpática, começou pelas perguntas mais básicas, para se ir aproximando lentamente do âmago da questão.

A idade, a profissão, as habilitações académicas... Para logo a seguir começar a perguntar há quanto tempo estamos juntos, como é que estamos a lidar com esta situação, etc, etc. Evidentemente não vos vou maçar com a descrição pormenorizada da entrevista com a psicóloga.

Foi importante é um facto, porque é bom sabermos que existe alguém para nos apoiar e a quem podemos recorrer se as coisas psicologicamente não estiverem a correr como queríamos.

Estivemos lá dentro uma hora inteira, depois de termos falado de tudo e mais alguma coisa, escutou-nos sem pressa, incentivou-nos a falar e participou activamente na conversa. No final, deu-nos um livrinho que o serviço de medicina de reprodução do hospital elaborou. Um livro muito bem elaborado, com uma linguagem muito simples e concisa, com algumas ilustrações muito explicitas.

Fiquei muito bem impressionada, espero continuar a ter bons motivos para escrever acerca das minha incursões ao hospital. Sempre que lá for escreverei, para que as que estão na dúvida acerca do sítio onde deverão fazer o tratamento, para aquelas que acham que os hospitais públicos são maus, e outras que no futuro venham a visitar este blog, com o intuito de aprenderem alguma coisa acerca da infertilidade e seus tratamentos, saberem com o que podem conter.

Por hoje vou terminar, deixo um beijo para todas vós, especialmente para as minhas "mosquiteiras".







sábado, abril 01, 2006

Reportagem DN de 1 de Abril - Dia do Mega Encontro

Mulheres inférteis unidas pelo desejo de serem mães

Maria João Caetano







Têm um "mega-encontro" marcado para hoje, por volta do meio-dia e meia, em Leiria. Saíram cedo de casa, vindas de todo o País, umas foram buscar outras, colocaram no carro uma fitinha azul e outra cor-de-rosa, "assim quando se cruzarem pelo caminho já sabem como se identificar". São poucas as que se conhecem de facto mas há meses que se encontram em fóruns de discussão na Internet e trocam mails. Foi assim que se uniram por uma causa, a infertilidade, e que criaram um blogue dedicado a este tema (http/unidasporumacausa.blogspot.com). Em comum têm anos de tentativas e frustrações. E são sobretudo mulheres. Dos 72 inscritos para o almoço só 13 são homens.


Estima-se que entre 10 a 15 por cento dos portugueses em idade fértil não consigam ter filhos sem ajuda médica. São cerca de 500 mil casais à procura de respostas. No entanto, esta "é uma doença que é vivida muito na intimidade, entre o casal", explica Cláudia Vieira, 31 anos, há três "nesta luta" por um filho . "Muitas vezes nem os amigos nem a família próxima sabem. A maioria não tem sensibilidade para compreender o que estamos a sentir."


Cláudia começou por fazer umas pesquisas na Internet, em busca de informação, e encontrou um fórum sobre infertilidade (http/bebes.clix.pt). "Eu até era um bocadinho avessa a estas coisas mas foi uma agradável surpresa. Encontrei mulheres com os mesmos problemas do que eu. Faz toda a diferença. É impressionante os laços que se criam. Sentimo-nos felizes com os sucessos umas das outras e também sofremos com os fracassos que, infelizmente, ainda são muitos." Em Dezembro do ano passado, criou o seu próprio blogue, a que, num tom optimista, chamou "the dream will come true".


Não é a única. "Ser mãe é ser eterna... e desde Março de 2005 que o tento ser", escreve Sónia no seu blogue. "Tenho 31 anos e o sonho de ser mãe. Não sei se algum dia conseguirei concretizar este sonho, mas lutarei muito por ele", assegura Cláudia. Depois de dois abortos, Ana está "à espera de um novo milagre". Elsa, 34 anos, conta as várias tentativas falhadas e não perde a esperança: "Sei que um dia serei mãe. Neste mundo cibernauta descobri amigas que me têm ajudado muito nesta luta."


É fácil encontrar na Internet os diários destas mulheres, com nomes como "sonho ser mamã", "à espera das estrelinhas", "wish for a baby", "sonho adiado". Aí partilham os sentimentos mais íntimos. Sónia passou por mais uma desilusão: "Cabeça erguida, começar de novo, até ao dia que Deus me dê o privilégio de ser mãe." "Se sou louca, vejo que não estamos sozinhos (eu e o meu marido) nesta loucura", diz Regina.



"Noutros países há uma tradição de grupos de entreajuda que funcionam em várias circunstâncias em que as pessoas se sentem desapoiadas. Há uma força que tem a ver com o facto de pertencer a um grupo", explica Isabel Leal, coordenadora da psicologia clínica da Maternidade Alfredo da Costa. Maria Paula Fernandes, terapeuta familiar, considera que a Internet permite abordar um tema que, antes, era tabu: "Já não é tão silencioso assim mas só porque mulheres de coragem criaram este espaço de debate".


Um dia, três "amigas de luta" sentiram necessidade de fazer mais do que conversar. O primeiro passo foi lançar uma petição a entregar na Assembleia da República, chamando a atenção para os problemas comuns (ver caixa). Depois, surgiu a ideia de criar uma associação. Explica Cláudia. "A questão é: como nos podemos ajudar umas às outras?" Ao princípio, todas querem perceber, saber quais as principais causas da infertilidade, quantos hospitais e clínicas existem, quais os métodos disponíveis, o que devem fazer. "Além dessas indicações mais práticas, nós, com a nossa experiência, podemos dar alguma orientação àquelas que, pela primeira vez, vão fazer um tratamento. Podemos dizer-lhes o que vão sentir e dar apoio."


A associação, cujo nome ficará hoje definido, tem já objectivos traçados: dar apoio médico e técnico às mulheres, criar uma linha de apoio individual e grupos de apoio psicológico. Para isso, as três fundadoras têm-se dividido em contactos com laboratórios e médicos ligados a esta área de modo a estabelecer parcerias. "Vamos fazer protocolos com clínicas e negociar com as companhias de seguros, queremos ter uma palavra a dizer na legislação e discutir a certificação das clínicas."


Nos blogues das "tentativas" contabilizam-se com entusiasmo todos os sucessos. São poucas as que desistem. "Vou ser mãe de qualquer maneira", afirma, determinada, Cláudia Vieira. "É difícil aceitar a doença e é muito mais difícil aceitar que não somos capazes de todo. O que nos move é a esperança." A psicóloga Isabel Leal compreende esta atitude: "Desistir é sempre complicado porque, de uma maneira geral, houve um grande investimento emocional. É entendido como uma derrota pessoal."