domingo, setembro 24, 2006

Corações ao alto

Ontem fomos a Fátima, eu, os pipis, e o A., depois dos acontecimentos dos últimos dias, andava muito triste e angustiada, e de alguma forma, naquele lugar consegue-se obter alguma paz.

Durante todo o tempo de duração deste problema da infertilidade, nunca fui pessoa de pedir ajuda aos "céus". De alguma forma parecia-me pouco razoável, que uma pessoa com boa saúde, com bom emprego, com uma família toda ela saudável e sem problemas pudesse recorrer ao desespero de solicitar ajuda divina, para um problema, que quer queiramos ou não, não é de "vida ou morte". E por isso, nunca, em ocasião alguma, nem nos meus momento mais sombrios eu pedi para poder gerar uma vida dentro de mim, para poder ter o privilégio de ter um filho.

Sempre achei que se esse privilégio tivesse de me ser concedido seria, senão é porque não estava destinado a ser, e guardei as minhas preces para momentos mais sérios e delicados da minha existência. Não que o facto de não conseguir gerar um filho não seja um assunto sério, nada disso, simplesmente acho que não é a razão una e fundamental da vida de qualquer pessoa. E, perante pessoas com problemas de saúde graves a morrerem nos hospitais, famílias sem emprego a viverem à míngua, ou crianças a serem mortas à pancada... O meu problema era de facto muito pouco relevante.

No entanto, desde que carrego estes pequenos seres dentro de mim, a postura mudou, e a peço constantemente nas minhas orações a graça de poder gerar uns filhos saudáveis, perfeitos, e que me seja dada a capacidade de criar pessoas de bem. A partir do primeiro momento que vemos aquelas "saquinhos" de vida dentro de nós muda toda a nossa postura, e vivemos só preocupadas com eles: Se a gravidez vai correr bem, se vamos conseguir levar a gravidez a termo, se eles vão ser saudáveis, perfeitos, etc, etc.

Acho que a nossa função de mães começa naquele exacto momento, para não terminar nunca mais. Noutro dia aconteceu-me um episódio caricato: Estava a dormir e cerca das 4 da manhã, ouvi uma travagem seguida de choque mesmo em frente a minha casa, acordei sobressaltada, e não quis ir ver o que se passava pois os acidentes impressionam-me imenso. Calculei que fosse algum jovem de regresso de uma noitada bem bebida que tivesse tido aquele acidente, e pensei que aquele sossego que tenho agora durante as noites, em que posso dormir descansadamente pois sei que a familia está toda reunida e em segurança, acabará a partir do momento em que nasçam os meus filhos. A partir daí serão poucas as noites inteiras e descontraídas que terei, até ao resto da minha vida, eles são parte de mim e o meu pensamento estará sempre com eles.

Depois dos acontecimentos dos últimos dias, em que mais uma vez vimos o destino manifestar-se da sua forma mais cruel, o peso da realidade submergiu-me. Como sabem, eu sempre disse, desde o primeiro momento do meu positivo, a guerra não está ganha, foi só mais uma pequena batalha que se venceu. É evidente que continuo a pensar o mesmo, mas inevitavelmente, ao sabor do tempo que passa, ganhamos mais confiança e aligeiramos um pouco a pressão a que estamos sujeitas. É evidente, que não devemos aligeirar. Eu não sou a típica portuguesa, ou seja eu não julgo que "acontece só aos outros", acho que o que acontece aos outros é muito possível que possa acontecer-nos a nós, até porque nós não somos em nada superiores aos outros, somos feitos da mesma matéria e concorremos com as mesmas possibilidades.

Então ontem fomos a Fátima, fui queimar 2 velas pelos nossos pipis, e pedir para eles a protecção divina. Pedi por nós e por todas vós, para que possamos prosseguir a caminhada sem mais sobressaltos e que cheguemos ao fim esperado. Se não o conseguirmos, que nos seja dada coragem de enfrentarmos o que nos estiver reservado sem revolta, e com força.

Beijos a todas

quinta-feira, setembro 21, 2006

Luto

Estou esmagada com o peso da notícia que abriu a minha tarde. A crueldade da vida é acutilante para certas pessoas e para esta amiga de luta tem sido madrasta.

De rastos com o peso da realidade e com um olho muito receoso no futuro, não esquecerei que o castelo de cartas pode desmoronar a qualquer momento.

Oxalá pudesse de alguma forma aliviar o sofrimento daquela mãe...

sexta-feira, setembro 15, 2006

Outro Rescaldo

A felicidade que me invadiu quando soube a notícia do Positivo desta amiga foi tanta, que pouca coisa se aproveitava daquilo que dizia. Pior! Estava em pleno trabalho, com camadas e camadas de gente à minha volta e nem sequer podia manifestar-me livremente! Entre uma coisa e outra lá consegui conciliar os pensamentos e os sentimentos e hoje, aproveito um pequeno pedacinho e venho aqui, prestar a merecida homenagem a esta grande AMIGA.

A verdade é que as vitórias sofridas são as mais saborosas, mas confesso que tanto sofrimento causa dor e apreensão nas pessoas que rodeiam a pessoa que sofre. Mas ainda mais (e isso é certo) na própria pessoa. AMIGA, sei que passas-te um dos momentos de maior angústia da tua vida, mas a recompensa chegou! Chegou e vai ficar contigo nos próximos 9 meses e durante o resto da tua vida. E a alegria que te vai dar vai compensar em dobro todo o sofrimento por que passaste.

Se te disser que não fiquei mais alegre com o meu positivo do que com o teu, sabes que é verdade, o meu foi um conjunto de factores que se conjugaram e fizeram com que eu tivesse a dita "sorte de principiante", o teu foi sofrido desde há 6 anos para cá e muito chorado. É evidente que estava mais do que na hora de teres um pouco de descanso e muita alegria.

Por isso querida AMIGA, aproveita agora cada dia de cada vez, com muito descanso e moderação, e esperemos juntas pelo dia em que vais ver o teu bébé pela primeira vez.

Milhões de beijos

segunda-feira, setembro 11, 2006

"Nine Eleven..."

O dia que mudou o mundo...

Recordo que em 11 de Setembro de 2001 estava a comprar uma "toilette" para um baptizado que ia acontecer no dia 30 de Setembro, estava a pagar quando olhei para a televisão e vi as diferentes frentes dos ataques: As torres gémeas, o Pentágono, etc. Lembro-me que fiquei em pânico, por aquela altura ainda os americanos andavam como "baratas tontas", e eu não fiquei melhor. Cheguei a pensar devolver a "roupita", porque pensei que se calhar nem iria ter tempo de a usar...

No dia seguinte, recordo que a minha irmã trouxe para a sobremesa do almoço 1 Bolo Rei, não sabia se chegaríamos ao Natal para o comer e achou que não deveríamos perder a oportunidade ainda que em pleno mês de Setembro.

É impossível ficarmos indiferentes a tal carnificina, de facto, nenhum de nós voltou a encarar o mundo da forma como o encarávamos até então. Acho que os americanos então, não devem andar descansados um só dia, só de pensarem que todo o seu mundo pode ruir.

Depois com a sucessão de ataques em Espanha, na Inglaterra, todos nós ficamos com a consciência que ninguém está em paz enquanto o fanatismo religioso reinar em certos países. Nenhum de nós pode dormir descansado enquanto tal suceder. A nossa visão do mundo mudou, espero que tenha sido para melhor, para que todos possamos construir um futuro sem ódios e sem fanatismos para os nossos filhos.

Ora, eu para recordar o 11 de Setembro, comecei o dia por ter de tomar 2 pequenos almoços, porque os pipis não perdoam... E 1 foi para o esgoto... Continuamos bem, pelo menos, enquanto os enjoos durarem, sei que eles lá estão e aparentemente devem estar bem.

O dia a dia corre normalmente, com muito trabalho muitos enjoos e cansaço à mistura. É evidente que ando muito feliz com os meus pipis. Creio que algumas amiguinhas acharam que eu estava a queixar-me no meu último post e acharam que eu seria talvez um pouco mal agradecida...

O que se passa, não é evidentemente a falta de felicidade pelos pipis, é realmente o corpo todo a ceder pelo estado de gravidez, é um estado completamente debilitante e prostrante em que me encontro, por vezes julgo até que estou doente. É evidente que sei que isto são sintomas naturais, e que ao contrário de fazerem mal, são sinais da boa saúde dos meus filhotes. Mas que custa... Ah isso custa! Por isso amigas, se eu me queixar dos pipis, já sabem que é de felicidade!

Beijos a todas

PS. Amanhã é um grande dia para uma grande AMIGA: "Tica, eu vou torcer para a realização do teu sonho, que o dia de amanhã te traga a felicidade dos enjoos também!"

terça-feira, setembro 05, 2006

2º Pensamento do dia...

Que sentimos quando passamos 15 minutos de joelhos com a cabeça metida dentro da sanita, sacudidas por vómitos intermináveis???

"Meu Deus que tens mais reservado para mim??"

Ontem foi dia de ir ver os Pipis!

Como é evidente, e acho que será mais do que normal, a ansiedade toma conta de nós nos dias anteriores. Se uma grávida dita "normal" tem ansiedades, nós, as futuras mães dos denominados "bébés de ouro", temos ansiedades a dobrar. Isto não é à toa claro, é fruto de tudo o que passamos para chegarmos a este frágil estado da nossa existência, é o receio de que a qualquer momento essa mesma fragilidade se revele e tenhamos de começar a construir o castelo de cartas outra vez. Acredito que temos receio de tudo.

Vários são os pensamento que nos povoam a nossa cabeça às vésperas de mais uma ecografia. Acredito que não somos todas iguais, que umas terão mais confiança do que as outras, mas também acredito que quem vive a experiência da infertilidade não encara, nem encarará algum dia mais, a experiência da maternidade de ânimo leve. Não quero com isto dizer que as outras ditas mulheres "normais" o façam, longe de mim, quero é dizer que nós provavelmente sentiremos as coisas de uma forma mais intensa, e tenho a certeza que em qualquer altura das nossas vidas, mesmo depois de nascerem os nossos filhos, quando ouvirmos uma história de um casal com problemas de infertilidade, ficaremos arrepiadas e seremos de imediato solidárias com essa ou essas pessoas.

Quando comecei a frequentar a blogosfera era descrente. Conhecia algumas pessoas, com vários ttt realizados e todos falhados. A minha crença na Medicina de Reprodução era muito limitada e por isso foi importante acompanhar todas as vitórias e derrotas vividas durantes estes meses, verifiquei que não existiam só ttt falhados, e histórias mal resolvidas. Vi que era possível acontecer e que os positivos, apesar de não serem ainda superiores aos negativos, têm vindo a aumentar, o que é de facto uma coisa boa. Vi sobretudo que as vitórias são importantes para insuflar a confiança naquelas que aos poucos vão perdendo as esperanças, e em certos casos isso é muito importante.

Assisti com incapacidade mórbida a alguns insucessos repetidos, e a algumas vitórias retumbantes. Compreendi que em grande parte dos casos a parte psicológica da questão tem uma importância fulcral, e essa é, de todas as variáveis a que acredito que acaba por fazer diferença entre o sucesso e o insucesso. Acredito que o acompanhamento psicológico desta questão é fundamental.

Agora adiante! Vou contar-vos como correu a a ecografia das 8 semanas e 3 dias dos Pipis. Correu bem, eles estão uns super bébés! Um tem 19,10 mm e o outro 18,80 mm, já se tornam mais nitidos na eco. E aquilo que vimos como um sendo só um coração a bater dentro de um saco, agora já se nota a cabecinha tipo girino. As placentas estão bem definidas e ao que parece muito bem. Aquele que era mais pequenino evoluiu para o tamanho aproximado do outro, e ao que parece implantaram-se no mesmíssimo dia, ou com diferença de 1 dia.

O médico, o da infertilidade, o que nos vai acompanhar até ao nascimento (assim espero), achou que estávamos muito bem. Já trouxe uma quantidade de análises para fazer e já tenho a eco do primeiro trimestre marcada para 2 de Outubro.

Os enjoos não dão tréguas, o cansaço também não, por vezes sinto-me num estado deplorável, mas é natural os 2 Pipis estão a precisar de toda a energia da mãe para a sua formação, e eu espero que eles a aproveitem bem aproveitadinha, que eu cá me vou aguentando. Agora, já lhes prometi uma semana de castigo para quando nascerem... Isto lá é coisa que se faça??!!?

Beijos a todas