segunda-feira, maio 18, 2009

Ainda a propósito de...

Estava eu "quieta e mansa", no meio da papelada e de umas quantas pragas mentais que ia rogando, quando fui interrompida por um dos meus colegas.

- Olha lá, estão ali uma pessoas para ti...

- Para mim, que querem?

- Não sei disseram-lhes para vir falar contigo...

- Disseste que eu estava?

- Disse...

- Bolas!

Mais umas asneiradas mentais, e lá me dirijo aos meus interlocutores, que eram (a saber), um casal jovem (na casa dos vinte e poucos), e uma senhora com mais idade, que depreendi logo ser mãe de um dos jovens.

- Queriam falar comigo?

A senhora mais idosa toma a palavra e pergunta:

- Olhe menina, por acaso não estão a precisar de pessoal?

De repente aquela pareceu-me uma pergunta armadilhada, e pensei, lá vem mais uma pedir os carimbos, ao menos esta pergunta se não é preciso pessoal*.

- Bem, neste momento não estamos a admitir ninguém, mas...

Ao que ela interrompe prontamente e me diz:

- Não era para mim menina, era aqui para a minha nora, que trabalhava neste ramo e ficou sem emprego, e eles (dirigindo-se ao casal), têm a casa para pagar, e eu vim cá com eles para ver se não precisam de ninguém.

Fiquei estupefacta, mas adiante. Recompus-me rapidamente e interpelei a nora candidata.

- Então e a menina trouxe um Curriculum...

- Não.

- Ah, bem é que era capaz de ser interesante, depois se quiser cá passar para deixar, qualquer coisa e eu chamo.

- Está bem eu deixo.

- Certo então, continuação de boa tarde e boa sorte.

Quando sairam lá vociferei, para os outros:

- Vocês viram-me esta??!! Quer vir trabalhar para um estabelecimento para fazer atendimento ao público e vem a sogra pedir? Isto não é normal! Quando chegasse um cliente ela fazia o quê, fugia lá para dentro e tinha de vir eu atendê-lo? Mas que juventude é esta?! Que é isto?!

Bem a rapariga nem o Curriculum veio deixar, por isso ou é mesmo lerdinha ou simplesmente é como a maior parte das dos carimbos, quer é o carimbo e dormir até ás 11.

* Não sei se sabem, mas hoje em dia os desempregados têm de fazer uma coisa que se chama de procura activa de trabalho, pelo que têm de apresentar umas folhas carimbadas e preenchidas pelas empresas para demonstrar nos centros de emprego que até andam à procura de trabalho, só que até nem têm sorte nenhuma e não encontram.

Alguns não terão. Mas a maioria dessas pessoas, vêm às empresas e não perguntam se temos trabalho, perguntam se podemos carimbar a folha. Geralmente carimbo, porque eu até nem sou a salvadora da pátria.

Agora isto para dizer que jovens são estes que formamos, que as sogras/mães, têm de vir com eles pedir empregos... Falam por eles, como se eles não tivessem voz. Isto para dizer que sim. Que até podia arranjar uns meses de trabalho para aquela rapariga, se tivesse vindo ela, sózinha fazer a abordagem, de forma profissional, porque até tenho uma pessoa a gozar licença de maternidade e tenho andado doida (eu própria), a trabalhar como uma maluca, porque tenho menos uma pessoa.

Em adenda ao post anterior, gostaria de dizer que não sou contra os infantários. De forma alguma. São uma necessidade e têm como tudo coisas boas e más. Nem todos podem deixar os filhos com os avós, nem todos querem, e nem tudo é um mar de rosas quando eles ficam com os avós. E também eu, e o pai deles trabalhamos, e de que maneira. Muitos são os Sábados e Domingos que um de nós está a trabalhar, e que o horário até nem é muito flexível. Mas que tentamos coordenar-nos para que pelo menos um de nós vá buscá-los e ficar com eles. Se um não pode o outro vai. A nossa vida não é diferente da de qualquer um, podemos é ter perspectivas diferentes.

Beijos a todas

quinta-feira, maio 14, 2009

Mais teorias acerca da educação

Se há coisa que detesto e me tira do sério são fedelhos mimados, cheios de artefactos electrónicos de última geração, com roupa ostentado as marcas em grandes letras, cabelo penteado à "moda" e cara de quem comeu e não gostou.

Estes são os pequenos tiranos, pequenas miniaturas de adultos, a quem os pais se esfalfam para conseguir agradar sem tal seja visível a olho nú.

Vivemos, todos nós (ou pelo menos a grande maioria), num grande circo. Corremos feitos loucos de um lado para o outro e andamos sempre apressados. No meio disto, ficam os nossos filhos. Crianças inocentes, que nem sequer pediram a ninguém para nascer. Tem-se filhos pela pressão social, tem-se filhos porque acontece, tem-se filhos porque sim. No entanto, na maior parte das vezes nem sequer temos tempo disponível para nós, quanto mais para os filhos.

Colocam-se os filhos nos infantários e/ou amas, ainda mal seguram o pescoço, ficam ao cuidado de terceiros durante 8,9, 10 ou mais horas todos os dias. Levam-se para casa para acumular com o banho, jantar e outras imensas lides domésticas que nunca mais acabam. A paciência é menor do que um copo de água, o cansaço é imenso.

Neste cenário, assistimos a pais que se afogam na culpa: Porque não têm tempo, paciência e disponibilidade... Vemos pais que tentam comprar com dinheiro o tempo e disponibilidade que não têm para lhes dar. Vemos erguer crianças egoístas, viradas para si e sem grande conhecimento significado do valor do dinheiro e da palavra não.

Conheço casos de putos que pedem aos pais para comprarem isto ou aquilo porque até só custa 1000 ou 1500 euros, como se estas quantias fossem irrisórias ou pequenas. E o pior é que não sabem, nem conseguem lidar com a resposta não. Já não conseguem... E os pais esfalfam-se, fazem dívidas, mas não conseguem dizer que não aos meninos, não querem que eles se sintam mal porque até nem têm aquilo que só custa 1000 euros e o amigo do lado tem.

Fui criada na época do não. Numa época em que o pai trabalhava, a mãe ficava em casa, e os putos eram contrariados porque sim. Havia algum dinheiro, mas não se faziam dívidas para comprar uma televisão. A mentalidade era preparar as crianças para o "dia de amanhã".

Desde muito nova partilhava tarefas domésticas com a minha irmã, arrumávamos o que era nosso, passávamos a ferro, ajudávamos na arrumação da casa, preparação de refeições e em tudo o que nos era pedido. Depois ainda tínhamos tempo para irmos fazer os "deveres", e ás vezes ver um pouco de televisão, televisão essa que tinha uma chave e só se abria em ocasiões especiais.

As roupas, eram confeccionadas pela costureira da terra, e tínhamos uma ou duas melhores para aqueles dias festivos. Os nossos brinquedos eram umas bonecas que iamos recebendo, só nas ocasiões festivas, as quais com alguma imaginação íamos vestindo e despindo com indumentárias fabricadas por nós na máquina de costura lá de casa. Quando começamos a saber ler e escrever, os presentes eram livros, mas sempre e só nas alturas festivas, não havia cá "vamos ali e compramos isto ou aquilo". Tenho colecções de livros fabulosas dessa época. Vem daí o amor pelas letras.

Os trabalhos da escola eram feitos por nós, sem ter o pai ou a mãe de atalaia a vigiar se os fazíamos ou não. Se vinha uma repreensão da professora por não termos feito isto e aquilo ou algum teste com má nota, era castigo na certa. Era aquele o nosso "trabalho" e desde logo tínhamos de o fazer bem feito, não havia presentes por termos boas notas, era este o resultado que devíamos ter pronto.

Tirei carta aos 18, tive carro, mas ia para a faculdade de autocarro e o "meu" carro só saía ao fim-de-semana com a kilometragem controlada.

Se gostei deste regime? Não e sim.

Acho que talvez algumas coisas fossem exageradas, porque até nem viviamos mal. Porque podíamos ter mais "vida boa". Mas, sem dúvida foi importante para a minha formação enquanto ser humano, enquanto mulher, enquanto profisional.

Com as minhas crianças, tento de alguma forma conciliar as coisas. Não estão no infantário, estão com as avós, não vão para lá ás 7 da manhã e não vou buscá-las ás 7 da noite. Vão há hora que acordam e depois de tomarem o pequeno almoço, tento sempre estar com eles ao almoço, para os mimar um bocadinho e para eles matarem saudades, e vou buscá-los ás 17h30 ou 18. Em casa, é por conta deles, fique o que ficar por fazer, o trabalho não foge.

Em termos materiais, é tudo muito a conta gotas, tento não dar em excesso, até porque eles nestas idades querem é muito amor e carinho.

No futuro, tenciono colocá-las numa escola pública. Quero que convivam com o bom e o mau, o rico e o pobre. Não sou nada a favor das escolas privadas. Por um lado acho que há mais facilitismo no ensino, e por outro o convivio com "elites" não será nada benéfico para as mentes em formação. Devem desde cedo distinguir o bem do mal saber conviver com ele e sobretudo verem qua há alguns que têm mais coisas do que eles, mas outros que têm menos.

Já têm a noção do dinheiro (tostões), e que para se ter coisas é preciso ter dinheiro, e que para ter dinheiro o pai e a mãe têm de ir trabalhar. Quando vamos a qualquer lado, e querem isto ou aquilo (agora andam na fase dos carros de moedas, e das bolas com brinde lá dentro), basta que eu diga que não tenho tostão e eles aceitam que não podem ter.

É claro que ainda são muito novinhos, e que quanto maior for a sua percepção do mundo e de tudo o que existe, maior será a tentação e a vontade de posse. No entanto, penso que com um pouco de bom-senso e algumas lágrimas, conseguiremos chegar a um ponto de equilíbrio.

Beijos a todas

terça-feira, maio 05, 2009

O primeiro corte

Hoje foi o dia, em que levei a minha princesa M. pela primeira vez cortar o cabelo. Quem a conhece sabe que ela tinha uma bela cabeleira toda aos "cachinhos". A esta altura, já estava pelo meio das costas, o que fazia com que tivesse de andar sempre a fazer-lhe tótós, pôr-lhe travessões e mesmo assim a ver a pobre sofrer com o cabelo sempre na frente da cara e de cada vez que tentava pentea-la.

Foram uns meses de preparação. Se a mim já me custa ir cortar o meu rico cabelinho, então o dela... Mas com o Verão à porta teve de ser. É mais prático para ela, para mim, para todos enfim.

Ia com um bocado de receio, e no caminho lá a fui mentalizando que íamos ao cabeleireiro cortar o cabelo, e ela lá foi dizendo que não queria cortar o cabelo e tal. Acho que associou o cortar o cabelo ao cortar as unhas, coisa que ela detesta e que repete religiosamente cada vez que lhe vou mudar a fralda: "Não vamos curtar as unhas..." - ao que eu respondo, "Hoje não."

Chegadas lá, sentei-a no meu colo, e deixei que começassem a pintar primeiro o meu cabelo, com ela sentada ao colo, para ela ganhar confiança. Depois enquanto esperava "pela tinta fazer efeito", lá fomos preparando a moçoila para o feito.

Antes de tudo pedi para cortar 3 caracóis para recordação (eu sei que sou boubelita!), depois lá se molhou o cabelinho e curtou-se. Não foi fácil, porque ela não parava quieta com a cabeça, mas de resto portou-se como uma verdadeira princesa e ficou tão linda a minha menina. Aguentou comigo quase 2 horas no cabeleireiro sem se chatear. Deve ser genética esta predisposição do mulherio para passar horas no cabeleireiro sem pestanejar.

Estão a ficar grandes, já são meninos.

Beijos a todas