quinta-feira, junho 24, 2010

Resposta

Resposta para alguém "named" Pa, mas que não permite acesso ao seu perfil, pelo que não poderei responder em âmbito próprio, terá que ser aqui:

Quem por cá anda há algum tempo, sabe que sou uma pessoa de firmes convicções; Sabe que passei um "bocadito" para ter os meus filhos e sabe portanto que sou uma daquelas mães profundamente convicta da maternidade como só quem passa pela infertilidade pode ser (que me desculpem todas as outras mães claro, mas quem passou por "cá" sabe do que eu falo).

Profissional convicta, de facto adiei durante muito tempo a vinda dos filhos, para isso mesmo, para criar condições para que eles viessem (se bem que as condições ideais nunca estão reunidas, mas esse é outro assunto). Não queria de facto ter uma criança para fazer de "bibelot" e largá-la numa creche ás 8 da manhã para ir buscá-la ás 7 da noite. A minha posição é esta e irreversível; Para isto nunca teria um filho, não seria justo para a criança que não pediu para nascer, nem para mim estar a colocar um ser humano neste mundo para não lhe dar as condições e os afectos de que precisa.

Não se deve ter filhos só porque é socialmente exigível. Devem-se ter filhos para lhes dar o melhor de nós mesmos, para lhes dar amor e acompanhamento, para sacrificarmos muitas vezes o "eu" em prol deles. Não podemos esquecer nunca que somos responsáveis por aquela vida que geramos e que a nossa obrigação é fazê-los crescer o melhor que pudermos e soubermos. Essa tarefa não cabe às creches, amas e afins.

Por isso sim, digo que se devem criar condições e bases de apoio familiar antes de se partir para a procriação.

Porque, além de tudo somos profissionais, e quando eu digo a muitos dos meus colaboradores femininos mais novos que não acreditem no "pão, amor e uma cabana", é bem verdade (apesar de elas acharem que eu sou exagerada). Os nossos filhos precisam de "comidinha na mesa" e "roupinha" para vestirem, e para isso precisamos de trabalhar, porque as que de nós não arranjaram maridos ricos, têm de contribuir para o sustento da família também (e mesmo que arranjaram... Trabalhar faz bem à mente). E num mundo que queremos estar ombro a ombro com os homens, lutamos pela igualdade de salários ninguém quer saber se temos os filhos doentes ou isto ou aquilo. A verdade é uma: A mulher é "castigada" pela maternidade.

É duro? É de facto, a economia não se compadece com certas coisas, porque é o que costumo dizer: Se todos formos tratar dos nossos problemas pessoais, fecha-se a porta e vamos para o fundo de desemprego (e outros); Não parece bem dizer isto... Lamento... Porque se é verdade que os nossos filhos precisam de muito amor, a verdade é que também precisam de comer... E nada deve ser mais penoso para uma mãe do que não ter comida para dar ao seu filho.

Se sou dura com os meus colaboradores nesse aspecto?! Sim ás vezes. Porque a mim também me custa muitas vezes ter de deixar os meus filhos doentes e entregues a alguém que não seja eu; Porque ás vezes (ao ínicio muitas vezes) tenho de ir trabalhar quase em claro; Porque para que os meus colegas tivessem férias atempadamente tive de interromper a licença de maternidade e deixar os meus filhos com dois meses e meio... É a vida. O facto é que não exijo nada que eu não cumpra, porque, volto a frisar, se formos todos tratar da nossa vida pessoal as coisas complicam-se.

Em todo o caso, faço questão de ir levá-los e buscá-los e de fazer todas e mais algumas coisas com eles. Não é essa a questão aqui e como tal não me vou alongar.

Relativamente à questão da "mãe" que referi no meu texto anterior, o que se trata aqui não é da dar ou não emprego (porque felizmente ainda moro numa zona com relativamente poucos problemas a esse nível), trata-se aqui de prestar ou não assistência a menores que são o "ganha pão" de pais e mães, quando devia ser ao contrário.

Trata-se de uma mãe que apesar de não trabalhar, ás 7h45 já coloca o filho fora de casa; Trata-se de uma mãe que apesar de não trabalhar, não vai á escola nem nos dias das festinhas e/ou reuniões de pais; Trata-se de uma mãe que apesar de não trabalhar e de viver do erário público, na vez de comprar fraldas, roupa e quiçá até comida para o filho prefere pagar 80€ por mês para alguém lhe levar a criança de casa para fora... Não se trata de uma pobre mãe excluída por qualquer entidade empregadora, trata-se de um caso (de entre muitos) de pobreza de espírito que só agrava a pobreza monetária.

Se eu dava emprego a uma pessoa destas? Claro que não! Porque, em primeiro lugar, não acredito que queira trabalhar, é como digo, sou de uma cidade empreendedora e com certeza existem muitas mães com 2 e mais filhos a trabalhar, ter filhos não é problema. E em seguida porque aos meus colaboradores/colegas só exijo aquilo que exijo a mim, as entidades que nos pagam são soberanas e não podem parar...

Cara Pa, não sei em que mundo vive ou de onde provêm os seus rendimentos. Mas acredite, dê uma volta por aí, e vai verificar que as mães com 2 ou mais filhos trabalham e também conseguem dar assistência aos seus filhos menores, não precisam de recorrer, na maior parte dos casos ao erário público e a empresas de transportes para conseguirem dar conta do recado.

É com muito orgulho que digo: Sou mãe de dois filhos, Sou mulher, sou dona de casa, e sou trabalhadora. E mais, consigo desempenhar todas essas tarefas com sucesso, e como eu milhões de mulheres por esse mundo fora todos os dias...

Que me desculpem as minhas leitoras que em dois dias consecutivos foram massacradas com dois testamentos ...

Beijos a todas

terça-feira, junho 22, 2010

Será sorte?!

Hoje quis cá vir... Hoje, apetece-me dizer algo, apetece-me escrever. Hoje, sinto uma tristeza interior que precisa de sair.

Muito se te falado da crise, do desemprego, do aumento dos impostos e mais recentemente do futebol (que faz esquecer, ao que parece, tudo o resto), e bla bla bla. Mas, ninguém se lembra de falar da pobreza de espírito da maior parte do "povinho" e que é a meu ver o nosso principal problema.

Na escola do gémeos, anda um miudo, o JP, é lindo como o sol, lourinho, olhinhos azuis, muito querido. É sempre dos primeiros a chegar, por isso sempe reparei nele, porque já lá está sempre quando eu vou deixar os gémeos.

Mais tarde, comecei a reparar que a dita criança (mais novo do que os meus), ia todos os dias por volta das 7h45 e era entregue por uma empresa de transportes de crianças, sendo essa mesma empresa que o ia buscar também ao fim da tarde.

Esse facto chocou-me. Lembro-me de ter pensado de imediato em que tipo de pais seriam aqueles que não tinham tempo de ir levar e buscar o filho à escola, um filho de dois anos e pouco entregue a uma pessoa estranha todos os dias. Quem é que se dava ao trabalho de ter um filho para lhe dar tal abandono.

A minha dúvida era se eram pais muito ricos e com muito trabalho ou se seriam pais pobres. Mas como o transporte ainda é caro, parti do princípio que os pais deveriam ter algumas posses para tudo aquilo e que seriam de facto pessoas desinteressadas.

A verdade é que nunca me cruzei ou vi a criança com alguém com quem partilhasse afectividade, a não ser com as auxiliares, e mesmo nas festinhas e reuniões a que fui nunca reparei no facto daquele miúdo estar sem ninguém. Sabem como é: Com 2 filhos a disputar a atenção, dois pares de braços, duas carinhas larocas, muita disputa, só tenho olhos para eles e para conversar com as outras mães minhas amigas que por lá estão.

A semana passada, tivemos a reunião do fim do "ano lectivo". A educadora passou um filme com fotos de todas as actividades realizadas por eles durante o ano e das "ditas festas" e convívios com familiares que fomos tendo, e aí de repente apercebi-me do denominador comum a todas aquelas fotos e filmagens. Aquele menino estava sempre sózinho: Sózinho quando todos os pais receberam o presentinho e pintaram as suas mãos junto das dos seus filhos; Sózinho quando as mães receberam o presentinho e voltaram a pintar as mãos junto das dos seus filhos; Sózinho quando os avós foram com eles passear ao Horto Municipal; Sózinho quando chegava de manhã e ia embora à tarde... E mais uma vez, naquela reunião em que estávamos não tinha lá ninguém.

Não me contive a no fim perguntei à Educadora (particularmente claro). Perguntei-lhe a razão daquela criança estar sempre sózinha.

O que ela me disse não constituiu uma grande supresa para mim. Apesar do factor "tem dinheiro para pagar a uma empresa de transportes" não estar a bater certo. Aquela criança é um caso social: O pai preso, a mãe recebe o famoso rendimento mínimo, não trabalha, tem mais duas crianças filhas de outros pais (uma mais velha e uma recém nascida para além do JP), pelas quais recebe mais não sei quanto da Segurança Social. Não paga nada na escola porque é uma IPSS; Não tem disponibilidade para acompanhar o filho apesar de não trabalhar e tem disponibilidade financeira para apesar de morar perto da escola pagar a uma empresa para ir levar e buscar aquela criança e provavelmente a criança mais velha também.

Lamento!

Lamento pela criança, a quem pelo que me disseram nem fraldas manda para a escola (já autorizei a usar das dos meus filhos); Lamento que nem agradeça a roupa que as educadoras lhe vão dando; Lamento que eu seja das que tenha de pagar para que esta pessoa tenha um filho atrás do outro e lhe paguem para ficar em casa sem trabalhar e mais grave ainda não prestar assistência aos filhos; Lamento que como esta existam muitas e muitas e muitos outros a quem se paga para não trabalharem... Sobretudo lamento pelo homem que esta criança de hoje vai ser amanhã... Pelos demasiados homens e mulheres deste que teremos amanhã...

Até para nascer é preciso ter sorte.

Beijos a todas