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Neste último dia do ano 2006, parece-me lícito e mais do que apropriado, utilizar este meu espaço para uma retrospectiva dos acontecimentos mais marcantes daquele que foi um ano importante na minha vida.
Recordo, que terminei o ano de 2005 de forma muito "sui generis", no final do ano passado tinha tomado muitas decisões de "ano novo", que sabia serem dificéis de conseguir, quer em termos pessoais, quer em termos profissionais. Para além disso, estava com uma infecção urinária do tamanho de uma casa e tinha passado o dia a acompanhar o "Lisboa/Dakar" pelo meio de montes e estava um frio de morrer, isto se tirarmos a chuva.
Quando chegamos a casa para a "passagem do ano", estava exausta, e ainda não tinham dado as 12 badaladas estava já meia a dormir no sofá, nem as pobres 12 passas comi. O facto de estarmos sózinhos também era de "per si" estranho, uma vez que foi a primeira vez (em muitos anos), que não tinhamos combinado nada com os amigos para aquele dia. O A. queria ir ver o Dakar ao Alentejo e os homens conseguem ser muito teimosos quando querem (o meu então é uma "mula").
O ano 2006 começou logo no dia 2 de Janeiro pela primeira tomada de decisão a nível pessoal, foi nesse dia, que com o meu médico decidi estabelecer um prazo de avançar para a FIV.
Em Janeiro ainda tomei grandes decisões a nível profissional, que viriam a culminar com um mês de Março e Abril super agitados, mas que me proporcionaram uma grande alívio e satisfação nos meses vindouros. Havia alguém num dos meus locais de trabalho que era causa de conflitos constantes e causa de problemas gravíssimos. No ínicio do ano foi altura de "bater na mesa" e dizer: -"Vou sair, com aquela pessoa não trabalho mais..."- Mas foi a criatura que me massacrava a vida e o trabalho há 5 anos que foi embora, e posso dizer que a felicidade foi colectiva e que foi um dos momentos mais felizes do ano no dia que isso aconteceu. É claro que, não há bela sem senão, e tive de abdicar de uma coisa (material) de que gostava muito, e em termos financeiros com alguns prejuízos, mas a nível pessoal foi bom, foi excelente. Os prejuízos rapidamente se recuperam e nada existe mais importante que a nossa paz de espírito.
A partir de Abril, o trabalho foi dobrado, mas feito com alegria e motivação extra, a equipa era boa e ficou excelente, os conflitos internos desapareceram e a produtividade aumentou, com benefícios para todos.
Cumpridos que estavam objectivos que considerava prioritários, pois acredito que o facto de andar sob um stress constante em termos laborais não contribuía em nada para poder ter um filho, em Maio decidi avançar para a FIV (estava agendada para Setembro), e em Junho, dia 26, lá comecei o tratamento. O resto, a maior parte de vós já conhece, por isso não vale a pena voltar a repetir.
O ano 2006 também foi importante, porque desde Fevereiro entrei neste "pequeno mundo", aqui aprendi muita coisa, conheci muitas histórias de vida que me fizeram sorrir e outras que me fizeram chorar. Celebrei muitos positivos com verdadeira euforia e entristeci-me com muitos negativos. Rejubilei com nascimentos e fiquei enlutada com perdas.
Foram vocês, antes da maior parte da minha família e amigos a saberem do meu tratamento, foram vocês a saberem em primeira mão as minhas angústias de cada vez que o ânimo desmoronava, foi convosco que partilhei o meu positivo em 4 de Agosto. São vocês, interlocutoras sem rosto (na sua maior parte) que vivem o meu dia-a-dia desde Fevereiro de 2006, e que me deram vontade muitas vezes para prosseguir, porque cada vez que eu julgava que tinha um problema do tamanho do mundo, eis que aparece uma com um problema maior, pronta a reagir e a seguir em frente.
Algumas de vós tive o privilégio de conhecer pessoalmente, outras ainda espero conhecer um deste dias.
Para todas, as que conseguiram durante este ano realizar o seu desejo de fazerem nascer uma vida, para aquelas que como eu aguardam a chegada dos seus bebés de ouro, para as que continuam a luta, para as que tiveram o sonho na mão e o viram desvanecer-se (principalmente para estas últimas), quero desejar um ano de 2007 muito feliz e que consigam realizar todos os vossos projectos, independentemente de conseguirem a maternidade física ou não.
Espero estar cá para acompanhar os sucessos e para consolar nos desaires, porque se é verdade que espero os meus pipis, também não deixa de ser verdade que sei o que custou, em termos psicológicos, para chegar até aqui. A infertilidade é uma realidade, e nunca vai deixar de fazer parte da minha vida, nunca poderei ficar indiferente perante uma mulher que quer um filho e não o consegue gerar, assim como nunca ficarei indiferente perante uma mulher que teve o privilégio de gerar uma vida e se pretende desfazer dela, ou perante aquelas que maltratam os filhos até à morte ou os abandonam à sua sorte.
Esta dissertação toda, só para dizer que tive (até ao momento),um excelente ano de 2006, e só peço que o ano 2007, a ser mau, que seja como este que hoje se finda.
Espero que entrem todas com o pé direito, comam as passas e bebam o champanhe, subam nas cadeiras, etc. que eu por cá vou ficar quietinha cá em casa, e é provável que nas 12 badaladas já esteja embalada a dormitar, porque este estado de pré-mãe, obriga-me a acordar muito cedo para dar o pequeno almoço aos pipis senão eles ficam zangadinhos e cheiinhos de fome.
Excelente 2007 para todas!