segunda-feira, julho 07, 2008

Era uma manhã soalheira de Outubro, daquelas cujo sol baixo ofusca, mas já não aquece muito. A Avenida ia pejada de risos e conversas dos estudantes com capas e livros, que seguiam a caminho da escola.



Era um cenário habitual na década de 80, os autocarros internos e externos deixavam ficar a estudantada que depois se juntavam aos que vinham a pé de casa, e todos juntos enchiam o ar com aquele burburinho prazeiroso que ainda recordo saudosamente. Hoje ao fazer o mesmo percurso, vinda de casa, dentro do carro, verifico que a Avenida está deserta, em proporção aumentou a número de carros que levam os estudantes agora até à porta da escola.



Íamos as três, eu a J. e a G., na bagageira uma qualquer conversa sobre um qualquer rapaz por quem andassemos a suspirar, ou outro qualquer assunto leve que caracterizava a conversa de três adolescentes de 16 anos.



De repente, a travagem brusca, o barulho de metal a chocar, a bater e a deslizar sobre o asfalto. De repente, um corpo a rebolar aos nossos pés. Aqueles segundos que parecem horas e a rapidez dos movimentos que parece em câmara lenta.



- É o irmão do B. - disse eu ao reconhecer o jovem motociclista caído.



Baixei-me para lhe falar, para ver se estava bem... Ele rapidamente se levantava também, e tentava ver se estava tudo inteiro. Ajudei-o a tirar os livros e o capacete, e suspirei de alívio, aparentemente, aquele rapaz tinha tido só um grande susto, e nós também...



Entretanto aparece um outro amigo que se prontifica a levá-lo ao hospital, porque as mãos sangravam e não conseguia mexer uns dedos. Fiquei com o capacete, com os livros, enquanto outro alguém tratou da mota, prometi que num intervalo lhos ia entregar à escola vizinha, quando ele chegasse do hospital.



Seguimos o nosso trajecto um pouco mais silencioso agora. Fomos para a primeira aula a pensar naquele acidente, e no que realmente poderia ter acontecido ali mesmo debaixo dos nossos olhos.



Nos intervalos ia espreitando para a escola vizinha (eram 2 escolas secundárias, uma em frente à outra, ainda são) para ver se via o rapaz, o irmão do B. Ao meio da manhã lá o vislumbrei e fomos lá levar os seus pertences e inquirir acerca do seu estado. Estava bem, com dois dedos partidos, tinha sido só o susto.



Nos dias seguintes, lá ia ele passando pela escola de cima e nós pela escola de baixo para sabermos como estava.



E foi ali, naquela manhã de Outubro, em finais de 1986, que aquele que viria a ser o pai dos meus filhos, 20 anos depois, me caíu aos pés... O destino tem destas coisas.



Beijos a todas

17 comentários:

Kitty disse...

Há coincidências... Certo?!
;)
Boa semana
Beijinho

Lília disse...

Minha querida,

A vida é mesmo curiosa. Ele caiu-te literalmente ao pés, hã?
Tirando a parte de ele se ter magoado, a verdade é que a história é bem bonita. E hoje passados todos esses anos, o vosso amor ficou reforçado com o nascimento do L. e da M.
Que tenham mais 20 anos de plena felicidade, e sem quedas pelo caminho.

Um beijo grande.

Unknown disse...

É o Destino! :-))

Beijocas!
Alexandra

Sem Desistir disse...

Love is in the air, lol
Pois, belas coincidências, não?!!
E concerteza mereceste esse rapagão caído aos pés.
Desculpa, isto hoje está mt para a lamechice...
beijocas

Angela disse...

Rica maneira de arranjar marido, sim senhora !!!!
Desse dia até hoje mudou tanta coisa já viste ? Até a avenida mudou....
Que tenham mais 20 anos de vida em comum sem acidentes nem percalços.
Beijos a todos

Nina disse...

:) Que curioso!:)
E que sorte tiveste em ter esse rapagão aos teus pés...faz-te tão feliz!:)
Beijinhos aos 4*2

Anónimo disse...

Pequenos promenores que nos deixam a pensar: "será que temos mesmo o nosso destino traçado?"

Também tenho tantas coisas assim curiosas, estranhas e tão giras na minha vida...

blogs.clubedospais.pt/amordamae

1gota disse...

E que destino! :)

É tão bom amar e ser amado, e ter uma história para contar.

Beijinhos.
:*

R&L disse...

Xiça que até me arrepiei!!!
Muito engraçado!

Bjs

p.s.ainda não me esqueci das fotos :O/

Mãe das Marias disse...

Lindo!!! Que estória fantástica, digna de um livro de ficção ;) Venham mais 20 anos e agora sem acidentes!

Beijocas***

R. disse...

Minha querida, gostei muito da tua (vossa) história. O destino consegue trazer-nos coisas mto bonitas. E venham mais 20 anos, 40, 60...


beijinhos

Raio de Sol disse...

a vida é realmente curiosa...lol...

estava destinado!

beijokas

Nocas disse...

Li o teu blog, talvez quase des de o início porque estou no início desta etapa tão longa que é a infertilidade. Revejo-me em muitas ocasiões e espero que o resultado seja parecido. É sempre bom saber que não estamos sozinhas nesta agonia e frustração.

Time Traveller disse...

Stardust, disseste tudo aquilo que eu penso! Quando digo que o país está doente refiro-me não só às instituições e às políticas mas também e principalmente aos seus actores, ou seja, a todos nós!

E como bem sabemos, os pais de hoje são bem mais permissivos... e não souberam dizer Não desde o berço. Resultado, meninos e meninas que não sabem lidar com a frustração mas mais ainda, que não sabem o que é o desejo. Sim, o desejo. Desejar algo, uma aparelhagem por exemplo, e ficar a namorá-la meses, anos até! namorá-la até conseguir um trabalho durante umas férias para com o primeiro ordenado correr a comprá-la e sentir o esforço recompensado. Mas também desejo por alguém... desejo por uma miúda gira, por exemplo. Aquela miúda cujo olhar durante meses cruza o dele mas que se mantém no que ele entende ser um patamar inatingível. Mas ele continua a sonhar, a desejar... a crescer até ao ponto de se sentir capaz de afugentar os seus medos, ou pelo menos capaz de os enfrentar por 2 minutos, e de ir falar com ela.

Este desejo que nós sentimos pelas coisas e que nos faz continuar a viver, ansiosos pelo dia de amanhã, crestes de que vamos conseguir, este desejo, os miúdos de hoje não sabem o que é... por isso é que muitos batem nos pais e professores à mínima contrariedade. Ou matam-se porque não conseguem suportar o primeiro Não da vida... aos 15 ou 16 anos.

Bjs e claro que vais ser sempre boa mãe! Tonta! :) Quem reflecte está um passo à frente. Um mesmo um quilómetro! ;)

Ceres

Clara disse...

Soubeste desde sempre disso ou foi posteriormente?

De uma forma ou de outra... comovente, sem dúvida!

(respondi-te)

PRINCIPES DO MEU REINO ! disse...

Bem... Fiquei sem palavras.. O destino prega-nos cada partida...
Adoro ler-te. Já te tinha dito, não??

Beijinhos muito comovidos.
Pat

Sónia e MI disse...

Adorei :D
há coisas que não se explicam, acontecem e pronto, há sempre um motivo para que aconteçam.

beijos grandes.