quinta-feira, junho 08, 2006

The day after

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

6 comentários:

Alexandra disse...

Muito bonito...este poema...uma grande realidade...
Beijinhos

Unknown disse...

Amiga,
Gostei muito da tua escolha para este post. De facto, não podia vir mais as propósito. Estive a ler os comentarios de ontem e apesar daquelas pessoas até escreverem bom portugês, o q já vai sendo uma raridade neste País, não conseguiram alcançar o "substracto" do problema em causa...porque não o vivem directamente. Seja como for e apesar de não ter sido nada comigo, fiquei magoada com as ideias veiculadas por alguns dos intervenientes. De facto, em Portugal o que predomina é que se o problema é meu, toda a gente é responsável por me ajudar. Agora, se o problema é dos outros, então não me interessa nada e posso criticar os outros à vontade. Veja-se o caso das florestas, por exemplo: todos os anos ardem, mas quase ninguém se preocupa em limpar as matas que são um bem comum! Porque as pessoas esquecem-se que, como vivemos em sociedade, a solidariedade é algo que devia existir naturalmente e não ohabitual egoismo. Deve ser por isso que Portugal continua na causa dos países desenvolvidos.
E isto é válido para todas as pessoas que, seja de que maneira fôr, criticam os outros sem terem conhecimento de causa. Foi isso o q mais me revoltou: a facilidade com que as pessoas emitem opiniões!! Toda a gente opina sobre tudo e sabe de tudo!! Deve ser contágio da febre do futebol...aquela de sermos todos óptimos treinadores de bancada.
Beijinhos para ti, minha linda e obrigada por seres como és.
Alexandra

M. Céu disse...

Aí está um poema que define o meu estado...

Beijos grandes

cris disse...

Adorei, adorei!! Venham mais!!!!
Beijos

Xana disse...

:-)
Se de alguma coisa me serviu este mundo, foi ter-te conhecido!! Obrigado por trazeres um bocadinho de luz, a este meu mundo das trevas!!!! ;)
beijos
tica

Norita disse...

Gostei imenso do poema, diz imenso.
És realmente uma Mulher extraordinária pela forma como apresentas as coisas e vives a vida. Beijinhos grandes e bom fim de semana.
norita30