sexta-feira, setembro 07, 2007

Palavras soltas

Este texto anda cá dentro a levedar há já algum tempo, o assunto não é actual, porque passado, ao mesmo tempo não é repetitivo porque nunca falei nele. Parece-me que seja talvez esta a altura de deixar fluir o pensamento, e passar a escrito o que anda cá dentro a bailar.

Reporto-me ao último mês de gravidez, da minha claro. A razão de só agora estar a escrever, tem a ver com a razão pela qual durante este período não fui muito descritiva, e tem basicamente a ver com o estado físico e mental que me acompanhou durante 36 semanas de gestação dos meus filhos.

Compete talvez esclarecer aqui, o interregno literário a que submeti este blog durante a gravidez, porque depois do nascimento todas sabem porquê.

Em primeiro lugar, quero dizer que a gravidez não foi um estado de graça para mim. Foi um estado de ansiedade profunda aliado a um mal estar físico permanente. Se por um lado estava feliz por estar grávida (muito), por outro lado os enjoos, o permanente mal estar faziam com que andasse sempre muito por baixo. Outra vertente era a ansiedade permanente e o medo de não conseguir levar o barco a bom porto.

Porque se numa gravidez dita normal, se acontecer algum azar, as pessoas dizem: -"Vamos tentar de novo" - e fica tudo bem, no meu caso (no nosso caso), um incidente significa o fechar da porta, ou então o início de mais uma saga de grandes oscilações físicas e psicológicas.

De uma coisa tinha a certeza, quer conseguisse ou não levar a termo a minha gravidez, para mim era o fechar da porta. Não me ia sujeitar mais vez nenhuma ao processo doloroso e esgotante de nenhum tratamento de fertilidade. Não conseguia, na minha cabeça imaginar-me a passar por tudo outra vez e foi uma jura que fiz. Se não tivesse que ser não seria, já chegava de brincar aos deuses.

Até Fevereiro não permiti que me dessem nada para eles, e até à véspera de ir para a maternidade nem cadeiras tinha para os trazer para casa. Uma coisa tinha preparada desde as 21 semanas... A minha mala. A deles só muito mais tarde preparei... E nem adiantou de nada, não precisaram de mala.

Devo dizer que apesar da barrigona, dos abanões deles lá dentro, de toda a parafrenália, acho que nunca na minha cabeça esteve muito presente a idéia de que iria ser mãe, andava tão ocupada a ter medo de o não ser que acho que nunca tive verdadeira consciência do que ia acontecer.

Depois um ponto de viragem na minha travessia, foi os incidentes que mancharam a felicidade de duas amigas do coração, ainda que virtuais. Nessa altura achei que não seria justo eu andar por cá a queixar-me das minha incertezas e incómodos, quando alguém sofria tão profundamente e não se importaria concerteza de estar no meu lugar. Achei simplesmente que não fazia sentido, e é essa uma das razões pelas quais não alardeio (muito) as minhas aventuras da maternidade.

A verdade, é que o interregno a que fui forçada por volta das 21 semanas, e me fez ficar em casa em semi-repouso, foi muito desgastante psicológicamente, enquanto que, fisicamente ia vendo o meu corpo a ficar totalmente transfigurado, e ia assistindo à quase falência do meu organismo, para dar vida aos meus 2 filhos.

No último mês de gravidez (das 32 Às 36 semanas), já quase não andava, arrastava-me; Tinha as pernas completamente deformadas de inchadas, e os pés tipo boneco de plasticina onde uma criança tenta colocar uns toros a servir de dedos; Os rins não funcionavam normalmente, porque a sobrecarga a que estavam sujeitos começava a ser demais, a barriga estava tão grande que dizia muitas vezes que se eu fosse mais baixa ao levantar-me caía para a frente; As noites e dias eram em branco pois não me conseguia deitar porque o peso da barriga era tanto que deitada ela ficava a repuxar as costelas e era um incómodo sem descrição possível. A única forma como conseguia dormir era sentada com as pernas esticadas e uma almofada apoiada num ombro, aí descaía a cabeça para o lado, e dormia de pé.

Andava exausta, as ecografias eram um tormento semanal bem como as viagens ao Porto para a consulta, na marquesa tinha de estar sempre a virar-me porque se estivesse deitada de costas começava a perder o ar, de lado doía-me imenso, era uma verdadeira provação. E para além de tudo, a barriga estava sempre dura como pedra. Uma coisa que demorava 10 minutos a fazer, demorava quase 1 hora, era desgastante para mim, para quem me acompanhava e para o médico.

Confesso que vi aproximar-se o dia do parto em passo de caracol, e que se calhar fiz um bocadinho de pressão para que ele fosse realizado naquele dia exacto, realmente não aguentava mais e já que tinha de ser programado e tinha, então deixar fazer só a data de referência, 36 semanas. Se fosse hoje tenho a certeza que teria feito o mesmo, mas no meu íntimo fica a dúvida: Se eu tivesse esperado mais uma semana teria sido diferente?

Para a semana continuo com as palavras soltas, por agora despeço-me com desejos de um bom fim de semana para todas.

Beijos

13 comentários:

Unknown disse...

Querida amiga

Eu senti tudo o que escreveste..
Os tempos foram iguais, tudo igual..
a nao ser o periodo das 32 semanas até ás 36 que estive no H.

Adorei ler-te - como sempre..

Um grande beijo amiga..
yami

Xana disse...

Tive o previlégio de vos acompanhar de perto; não me esqueço desta viagem; Não me esqueço do dia em que "conheci" os teus pipis a bocejar e a dizer adeus naquele ecran; não me esqueço do teu olhar assustado naquele dia em que te preparavas para levar a malita... senti contigo esses medos muitas vezes sem saber a maioria das vezes o que te dizer, as palavras certas para te animar.. Mas estão ai amiga..estão ai uns lindoes!! Toca por isso a dar-nos sempre novidades das aventuras ai por casa, ok??
jocas
tica in hormonia state

Lília disse...

Minha querida,

Acredito que tenham sido longos meses de ansiedade e apesar de todos os medos, todo o mal estar físico e psicológiso porque que passaste, a verdade é que conseguiste passar com nota máxima esta provação e tens hoje contigo uma grande riqueza, os teus filhos, que são saudáveis e que a cada dia te dão muitas alegrias.
E tenho a certeza que todos os dias dizes: Valeu a pena.

Beijinhos grandes,
Lita

Sem Desistir disse...

Olá,
Acredito em cada sentimento por que passas-te na tua gravidez. Sem dúvida, terá sido um período de grande provação, quer física quer psíquica, mas, o resultado compensou de certeza.
Adoro ler-te!
bjs

Bem Me Queres disse...

Amiga, as lágrimas caem....e sabes porquê.
Acredita que fiquei mt feliz no dia em que vos fui visitar ao hospital. Percebi que nem tudo são infortúnios e que histórias com final feliz existem.
Agora goza bem os momentos fantásticos que vives com os teus filhos, pois sei o qt te custou concebê-los.
Beijinhos doces

Kitty disse...

Já tinha saudades de visitar!
Continuo a adorar ler-te!
:)

Visita as três meninas gémeas:
http://astresmeninasgemeas.blogspot.com/

Bom domingo
Beijinho

O Nosso Costume disse...

Passei pelos mesmos sentimentos e desconfortos fisicos a única diferenla foi que a minha gravifez não era gemelar e mesmo assim a Margarida nasceu às 37 semanas!!!
Beijinhos aqui do meio do Atlântico!!
Sani

Unknown disse...

Um beijinho
Cris

Mãe Pimpolha disse...

Em parte sei o que sentis-te durante a gravidez, com uma grande excepção, eu sou daquelas que foi dizer e fazer, ou melhor, pensar e engravidar, mas o medo de que algo corresse mal esteve (apartir dos 5 meses) sempre presente, não consegui aproveitar a gravidez. Se eu sofri, imagino como não te terás sentido tu.. um grande beijinho

Sem Desistir disse...

Amiga passei cá para te deixar uma beijoca docinha.

R. disse...

As tuas palavras soltas prendem-se completamente a atenção e devoro-as sempre com avidez.

Nunca passei por isso que descreves mas compreendo perfeitamente os teus sentimentos, agora passados a desabafos.

Agora que tudo está mais calmo, toca a aproveitar ao máximo esses 2 filhotes lindos e a partilhar connosco o seu crescimento.

beijinhos

Angela disse...

Eu sinto muito que como a minha gravidez foi muito desejada e passamos pelos ttt, que não tenho o direito de me queixar, pelo menos na opinião dos outros claro. Dizem-me logo "mas não era isso que querias, andaste dois anos a lutar por isso ??"
Sim era o que eu mais desejava, dispensava os enjoos, a azia, as dores nas costas, as hemorroidas, enfim..e para ti com gêmeos deve ter sido mil vezes pior.
Adoro os teus relatos, identifico-me imenso com as tuas palavras, o que quer dizer que devias escrever um livro um dia.
Beijos grandes

TC disse...

Como continuo a adorar ler-te! E faço nova vénia rasgada à tua sinceridade.
Andei uns dias sem grandes visitas e hoje lembrei-me que estava a sentir algo que já tinha lido... "Onde?" No teu blog, há uns tempos, mas deixei a meio.
Depois continuarei. Para já, estou-me a rever nas tuas palavras.
É bom sentir que não sou "um bicho raro", mas custa, caramba!
Fica com um beijo enorme!