terça-feira, setembro 11, 2007

Mais palavras soltas

O dia 15 de Março alvoreceu brilhante, O céu azul, muito azul, o ar ensolarado dos mais bonitos dias de Primavera, e uma temperatura amena.

"É um dia bom" - pensei eu, enquanto me arrastava para os últimos preparativos, antes de ir para a Clínica. Veio a manicure de véspera, e a cabeleireira de manhã, queria que os meus filhos me conhecessem no meu melhor.

Não estava nervosa, nada, estava calma e desejosa que a hora chegasse. Estava marcado para as 13h30. Sentia um misto de curiosidade e sobretudo um grande cansaço; Sentia que num dia assim nada poderia correr mal, ou melhor, pensava que depois de tudo, mais nada poderia correr mal.

Demos entrada no Hospital por volta das 10h30, tinha decidido ir para um hospital privado, achei que em termos de conforto seria melhor para mim e para eles, com a contrapartida de ter o meu médico incondicionalmente ali. Foi um grande motivo de critica esta minha decisão, todos acharam que estava a arriscar um bocado fazer um parto de gémeos num hospital privado, pois caso algo corresse mal, seria complicado. Resolvi arriscar, não estava com vontade nenhuma de me enfiar num enfermaria com mais 4 ou 5 paridas e respectivos bebés a chorarem dia e noite, e não poder ter uma pessoa sempre ali perto de mim, e não poder receber visitas quando eu quisesse, não ter o staff médico da minha confiança, etc.

Foi um risco, e desde logo o assumi, escolhi um hospital que pela localização geográfica ficava ali mesmo, entre 1 central e uma maternidade... "Just in case". Preferi dar um pouco de primazia ao meu conforto, porque... Porque sim!

Ás 13h30 em ponto, lá ia eu dentro da cama a caminho do bloco, antes disso tinha tido a visita da parteira (um doce), do anestesista e do meu médico. Lá me convenceram a levar a epidural. Confesso que na altura preferia a anestesia geral porque pensava que me ia fazer uma grande confusão ver aquela parafrenália toda e eu ali deitada enquanto eles me "retalhavam" enquanto estava consciente. - "A epidural é melhor, a recuperação, blá, blá, blá..." - "Ok, epidural então".

Já dentro do bloco, toda a gente fazia festa: "Gémeos??!!! Um casal!!!??? Que bonito!" - enquanto aproveitavam para contar as histórias das suas gravidezes e respectivos partos, encontrei uma enfermeira que também tinha feito tratamentos para ter filhos, disse-me que até hoje se emociona quando vê nascer bebés de tratamentos. Uma equipa bem disposta, tudo bem disposto. Lá levo a dita cuja... Nem senti, comecei passado um bocado a sentir-me encortiçada, e pelos testes que me faziam lá percebi que não estava a sentir nada, ou melhor sentia que me mexiam, mas não sentia (pensamento estranho).

Estava calma e apreensiva, se é que é possível partilhar dentro de nós dois sentimentos tão antagónicos. estava calma porque confiante, porque desejosa pelo desfecho de mais um ciclo. Apreensiva pelo desconhecido.

Começaram a operação propriamente dita, sentia tudo mas não sentia nada, de repente ouço um barulho de aspiração e o anestesista disse-me que estavam a aspirar o liquido amniótico do primeiro bebé, fizeram apostas qual seria o primeiro a nascer, se o L se a M, eu disse que devia ser a M., de repente um ruído, uma tosse, um choro gritado, uns pares de mãos para a apanhar. Era a M. em todo os seu esplendor a gritar com uma possessa, só a vi passar por mim, foi logo absorvida pelo pediatra e parteira e demais pessoal. entretanto o aspirador estava novamente a funcionar, o outro gémeo vinha a caminho. Ainda andaram um bocado às aranhas atrás da cabeça do L, ouvi pedir uma ventosa, fiquei alerta... Afinal não foi preciso, o rapaz lá deu a cabeça ao manifesto e 2 minutos exactamente depois dava também o seu grito do ipiranga. Como a irmã, também o vi logo passar de mão em mão numa rapidez de movimentos ensurdecedora, sei que deu uma mijinha no pediatra e essa foi a imagem de marca dele desde o primeiro momento.

De onde eu estava tentava vê-los, mas tinha dificuldade pois estava muita gente de volta deles a tratá-los, ouvia-os chorar e sabia que estavam bem. "Missão cumprida." - pensei, e fui invadida por uma sensação de puro alívio e um torpor que me pesava nas pálpebras. Chamei o anestesista e disse: "Estou com muito sono, é normal?" - Ele disse que sim que era a quebra da adrenalina e disse-me que descansasse, veio mostrar-me a M. já vestida. Entretanto levaram os gémeos numa cestinha, enquanto me cosiam relaxei e tentei dormir. Tinha a cabeça vazia, naquele momento não conseguia sentir nada a não ser um extraordinário cansaço.

Levaram-me para o quarto, e pelo caminho a parteira disse-me que os bebés não iriam já para lá porque a M estava a precisar de um pouco de oxigénio e estava muita gente à nossa espera, disse-me que eles iriam para o quarto quando as visitas fossem embora, mais para o fim da tarde.

Só queria dormir, pedi para me fecharem as persianas e para não entrar ninguém, tinha sono, muito sono... Sentia um alívio imenso: "Estão bem, nasceram e estão bem!" - era só no que conseguia pensar até ser abraçada por um sono profundo.

Quando acordei estava sozinha ainda. Aproveitei para comunicar ao mundo o nascimento. Os berços deles continuavam lá vazios a olhar para mim. Comecei a ficar inquieta. As pessoas começaram a entrar umas de cada vez para não fazerem muita confusão, estava tudo eufórico, aguardavam ansiosamente pela chegada dos rebentos. Só que essa chegada tardava em acontecer.

Beijos a todas

11 comentários:

Unknown disse...

Hum...o q é q eu hei-de dizer...Bom, para já foi uma chegada em grande estilo...cabeleireiro e manicure...ui, ui...q chique!
Acho q, apesar de tudo, a sorte esteve do teu lado, amiga. Foste abençoada com 2 filhos maravilhosos e com uma gravidez, q apesar de ser de risco, correu efectivamente bem.
Beijinhos e cá espero as cenas dos próximos capítulos :-)
Alexandra

cris disse...

As tuas palavras sabem sempre tão bem ler ...
Beijocas

Susana Pina disse...

Minha querida amiga,
mais uma vez estou enternecida com o teu post.
Mesmo com todos os precalços, e a ansiedade de que as coisas podiam não correr da melhor maneira, deves sentir-te muito orgulhosa, porque conseguis-te apesar de todas as contrariedades, teres os teus meninos contigo.
Amiguinha, como eu gostaria de não vos ter feito sofrer, como eu gostaria que todas vós que estavam grávidas quando eu e a Cláudia, tivessem uma gravidez merecidamente tranquila. Mas infelizmente a realidade assombrou a net, e por consequência o coração e o sentimento de todas vós.
Quando dizes que o teu ttt seria o último, eu acho que só poderias saber se seria ou não se esse ttt, não tivesse resultado. O desejo enorme de ter um filho subrepõe qualquer sofrimento, e tenho a certeza que se não tivesse resultado, terias voltado a tentar.
Nª Srª de Fátima abençou-te, com 2 filhos lindos, e agora minha amiga, disfruta dessa felicidade linda que é a maternidade.
Um bj do tamanho do meu desejo
Tua amiga que não te esquece
susana

Angela disse...

Aguardo ansiosa pelas restantes palavras soltas...
Engraçado, também já recebi algumas críticas por escolher um hospital particular.
Beijos grandes

R&L disse...

Bem.. até arrepia! Principalmente porque até ao momento do primeiro grito deles, reconheço também a nossa história. Apesar do que se segue (espero mais palavras soltas) ter sido ligeiramente diferente!

Beijinhos 4x4

Anónimo disse...

Ai mulher... anda cá contar o resto!
Estás a deixar-me ansiosa. Olha que eu não aguento esta curiosidade!
Ok, já sei que correu tudo bem. Isso sim é que interessa. Tb sei que tens 2 filhos lindos. A nossa Claudia qd te foi ver disse-me :)

Beijinhos . Muitos, muitos, muitos.
Bacokinha

PS: Sabes da Tiquinha? Começo a ficar preocupada. Ela já fez a transferencia?

PS1: Este post da Susana Pina, consegue reduzir tudo a uma insignificancia... Há pessoas que merecem tudo de bom. Nas palavras da Susana vê-se o seu intimo. Ainda vai ser completamente feliz um dia. É impossivel que Deus esteja sempre adormecido...

Sem Desistir disse...

Nesta versão dos acontecimentos conseguis-te transmitir na perfeição, o medo e ansiedade que passam as pessoas que como nós, têm de passar pelos ttts. Foste duplamente abençoada e se dúvida escontraste a felicidade plena. Por isso, valeu muito a pena!
bjs

tiquinha disse...

È com ternura que relembro tudo isto, toda a vossa história... estes ultimos detalhes escritos por ti, são deliciosos.... Sei que depois foi complicado, mas agora deves olhar para o lado e ficar feliz!!
beijocas
tica

Sónia e MI disse...

:)))
são dias eternos, que nos ficam para sempre.

Mãe Pimpolha disse...

As tuas palavras são lindas. Beijinhos

Bem Me Queres disse...

Só mesmo tu. Cabeleireiro e manicure!!!!
Finalmente o dia de encontro já que na clínica não os consegui ver. A M. e o L. estão lindos, lindos! Parabéns!!!!
Beijinhos doces