segunda-feira, setembro 03, 2007

Dias de solidão

Depois de 5 meses e meio, passados na sua maior parte com eles. Depois de 5 meses e meio: Em que acarinhei nas primeiras cólicas; Em que vibrei com o primeiro sorriso; Em que lacrimejei ao ouvir os primeiros sons deles na tentativa de comunicar com o mundo; Em que fui persistente com as colheradas da papa e da sopa para que eles aprendessem a comer, Em que centenas de vezes me enterneci até ás lágrimas a vê-los dormir e algumas outras que desesperei por não saber como calar o choro deles... Hoje deixei-os oficialmente pela primeira vez, 1 dia inteiro (ou quase), sem mim e eu sem eles.

Chorei ao vê-los sair de casa, chorei, porque a partir de hoje deixo de estar lá presente em todos os momentos, em todas as conquistas, em todos os sorrisos, em todas as birras. A partir de hoje, todas as conquistas serão divididas, e quantos momentos da sua evolução eu vou perder...

Já fui vê-los (claro), o sorriso rasgado ao ouvirem a voz da mãe não deixou margem para dúvidas, também eles sentem a minha ausência, e isso ainda custa mais. Abracei-os como se os quisesse meter dentro de mim outra vez, e tive de os deixar novamente, e a partir de hoje um dia atrás do outro, e outro...

O L, tem andado maio adoentado, coitadinho, com uma otite, e agora com um pouco de diarreia. Têm andado os 2 meio chorões desde que regressamos a casa, acho que estivemos muito tempo na outra casa, e agora está a custar-lhes habituar-se a esta, ou talvez tenham já alguma premonição de que os "good old days are over". Mas de resto estão uns pimpões, e se dormissem mais algumas horitas de noite eram uns queridos...

A verdade é que nunca julguei que custasse tanto, porque por vezes era de tal modo absorvida por eles que não tinha tempo sequer para comer, ir à casa de banho ou outras coisas tão básicas como ir beber um copo de água ou falar ao telefone. Era uma tarefa de 24 horas, sem tempo para intervalo. Mas foram imensamente superiores as vezes que essa tarefa me proporcionou prazer do que as que me desesperou (que não foram poucas).

Quando entramos na maternidade, pela primeira vez, somos surpreendidas, nunca estamos prepradas para cuidar de 1 bebé, quando aparecem 2, então existem alturas em que a coisa é surreal, e julgamos que nunca vamos conseguir aguentar a pressão a que somos sujeitas para responder à exigência daqueles pequenos seres, porque eles exigem, até à exaustão, e não querem saber se estamos cansadas, doentes, ou simplesmente já tivemos tanto que já não aguentamos mais... Eles estão ali, e querem aquele colo, aquele leite, aquele afago, naquela hora, e não esperam nem um minuto, eles choram, e berram, e nós não sabemos o que eles têm, e isto uma hora atrás da outra, um bebé atrás do outro. Sim, porque quem só tem 1 ainda vai tendo uma folguinha, quem tem 2, tem sempre algum a necessitar de atenção. Muitas são as vezes em que julgamos que vamos sucumbir e, porque não, até fugir.

No entanto, desde o momento que vemos aquelas carinhas de anjo a dormir regaladamente no nosso colo, ou simplesmente na sua caminha, sempre que vemos aqueles sorrisos com que nos presenteiam quando acordam de manhã ou quando fazemos umas simples brincadeiras com eles, quando os apertamos nos nossos braços e sabemos que são nossos, são parte de nós e lutamos para que eles viessem a este mundo sãos e salvos... Esqueçemos o nossos cansaço, as nossas dores físicas, e avançamos sem medo, porque sabemos que eles dependem de nós e a nossa tarefa nesta vida é fazê-los crescer saudáveis e felizes... E agradecemos... Todos os dias, porque um tesouro muito preciso nos foi confiado.

Eu, perante certos padrões modernos, até nem devo ser grande educadora, os meus filhos gostam de adormecer ao colinho, e eu não lho nego, se algum está mais agitado vem dormir comigo na minha cama, e detesto que chorem, e faço tudo para que isso não aconteça... Se calhar algumas pessoas vão dizer que estou errada: O certo é deitá-los a dormir nas caminhas deles e deixá-los lá para aprenderem a dormir sózinhos, não os deixar ir à cama dos pais, não lhes pegar ao colo sempre que choram, etc, etc, etc.

Mas, acreditem, depois de tudo o que passamos, eles e eu, não quero saber cá de psicologia de trazer por casa, eles daqui a pouco não querem o colo, querem é caminhar e descobrir o mundo, não querem a cama da mãe, querem o quarto deles e as coisas deles. Por isso, deixa-me aproveitar enquanto posso.

Beijos a todas

19 comentários:

tixa disse...

Lindo!!!! Lindo!!! E sábio...como sempre...
Estes dias devem custar muito, depois de 5 meses sempre com eles, mas aos poucos vão-se habituando...tem de ser é a lei da vida e da vida de mãe trabalhadora.
Um bj enorme enorme

cris disse...

Nem consigo imaginar como deve custar deixa-los, mas tem mesmo de ser amiga, pensa na carinha deles quando chegares a casa, no sorriso que te vão dar!!!
Beijocas grandes

Sem Desistir disse...

Bem, adorei este post. És sem dúvida uma excelente Mãe. E porquê? Porque choras por eles, porque queres tê-los no teu colo, porque não queres que eles chorem, porque queres que sejam felizes, porque não te queres "separar" deles, enfim, por tudo e mais alguma coisa... Imagino a dor de uma Mãe que passa o que estás a passar. Essa fase deve ser bastante dolorosa. Mas é a vida!
Infelizmente temos de pagar para que fiquem com os nossos filhos, quando na verdade, gostariamos que nos pagassem para ficar com eles.
bjs c/carinho

Lita disse...

Ai amiga
fico sempre emocionada com as tuas palavras!
Deve ser muito difícil cortar o "cordão" e vê-los ir assim para o colo de outros para passarem o dia longe do teu colo, dos teus afagos e dos teus mimos.

Fazes bem em aproveitar agora porque é como dizes, um dia destes já não querem colo nem mimos!

Um beijinhos grande

Lita

R&L disse...

Aproveita, sim e bem que eu faço precisamente o mesmo... Que se lixe a psicologia!
Até tenho a sensação que eles crescem melhor assim... tendo o mimo quando querem, porque daqui a nada não querem e nós??? O que pensamos a seguir??? Eu não dei mimo quando devia??? Nem pensar!

Em relação á adaptação do dia a dia sem eles... nem quero pensar nisso ainda, mas sei que vai doer a sério!

Beijinhos e boa sorte!

Unknown disse...

Adorei este teu texto! Aliás, como adoro ler tudo o q escreves!
Em relação aos mimos q tens dado aos teus filhotes, acho perfeitamente justificado atendendo ao q passaste para os ter nos teus braços.
Beijinhos...o resto digo-te pelo msn eheheheh!
Alexandra

Barriguita disse...

penso como tu... deixa-nos aproveitar enquanto eu posso e ele quer!

custa deixá-los. felizmente, conmsegui adiar esse momento por mais 2 semanas. Mas revi-me em todas as palavras que escreveste. Acho que ser Mãe é mesmo isto: passar a tê-los em 1ª prioridade!

beijocas

Nina disse...

Revejo-me em cada uma das tuas palavras, amiga!
Eu corro para o Di sempre que dá um gemido...quero lá saber de filosofias baratas! O que quero é, amanhã, não me arrepender dos miminhos que não dei para o não "estragar"!
Beijinhos, amiga

TC disse...

Quando há uns meses li os testemunhos no site da API, o teu marcou-se pela consciência.
Hoje o teu post deixa-me ver que não mudaste e que a franqueza, sem medo de críticas continua intacta.
Muitos parabéns pela tua dupla vitória!
E se algum dia quiseres ler um livro sobre os benefícios de ter os filhotes na cama "quando eles querem" há um da Sheila Kitzinger. Não sei se sou totalmente apologista, mas espero vir a dizer-to quando tiver que decidir: cama dele/a ou minha?
Fica (muito) bem!

Anónimo disse...

Acredito que deve ser terrivel deixá-los, mas tem de ser...

beijinhos


Gisela

Angela disse...

Deve custar horrores deixa-los, mas eu penso sempre que se os outros conseguiram, eu também hei-de conseguir.
Concordo contigo na história a psicologia educacional moderna !!!
Beijos grandes para todos e melhoras para o L.

Uma vida (im)perfeita!!! disse...

Olá minha querida.
Chorei e ri ao ler este teu post. Não sei se é por causa da gravidez mas agora ando um bocadinho mais lamechas. Não podia concordar mais contigo e quando penso que quando a minha ervilhinha nascer e depois da licença de maternidade não vou poder estar com ela 24h por dia até me vêm as lágrimas aos olhos.
O que eu digo sempre é que temos de os mimar os mais possivel enquanto eles deixam
Tu És e Serás sempre uma excelente MÃE...
Muitos beijinhos para os três,
Carla

Mãe das Marias disse...

Estou de lágrimas nos olhos... tou a ver tanta coisa que estou a passar neste momento com a Tiz e já é tão dificil, nem imagino com 2!
Nem quero imaginar o dia em que começo a trabalhar e não posso estar com ela 24 horas...
Força super mãe!
Beijocas

Susana Pina disse...

Mais uma vez as lágrimas caem em cima da minha secretária. LINDOOOO!!!
Espero um dia poder sentir tudo o que hoje descreves aqui. De facto deve ser um sentimento maravilhoso, e eu também não me importaria nada com o facto deles ficarem mimados. Dá-lhes o colinho enquanto podes, porque eles merecem, porque tu mereces todo esse Amor.
Tinha tantas saudades tuas, amiga, tantas vezes pensei em ti nas férias, tenho o teu nº, mas não sei porquê sentia timidez em te ligar.
Um bj enormeeeeeeee x 3 é claro.
Susana

R. disse...

beijinhos para te ajudar a superar estes dias difíceis.

Rita disse...

Eu passei exactamente pelo mesmo.

Coloquei os gémeos no colégio quando eles tinham 6 meses: tinham sido os 6 meses mais intensos da minha vida... 24 horas por dia com eles e de repente deixáva-os ali.

A verdade é que eles adoraram a escolinha, as educadoras e os amigos.

Agora com 17 meses a escolinha é a 2ª casa deles... adoram!

Bárbara - Sol e Lua disse...

Gostei muito de te ler amiga

Pois é, custa vê-los a irem para o infantário mas lá estão bem, com gente sábia e que apesar de tudo sabe mais do que nós o que nos custa é precisamos não assistir ao primeiro passo, à primeira xixizada no pote, sei lá.....mas a vida infleizmente não é fácil e por isso devemos aproveitar os momentos que temos com eles.

Parabéns pelos pipizes

Mãe das filhotas disse...

Como te percebo...
Da minha primeira filha deixei-a pela primeira vez no colégio com 6 meses e vinha trabalhar sentido-me vazia. Quando saia do trabalho chorava de ansiedade até chegar ao colégio e tê-la outra vez nos meus braços.
Com o tempo tive(tivemos as duas) de nos conformarmos com a realidade e foi custando menos a separação.
Da segunda filha foi também com 6 meses para o colégio, mas como já conhecia o espaço e as pessoas e tenho muita confiança nessa escola maravilhosa, não me custou tanto a habituar, mas o vazio mantem-se. Sinto-me incompleta e de braços vazios quando não estou com elas.
A mais velha já tem 8 anos e a mais nova 3 e ainda me dá tanta vontade de ligar durante o dia só para saber se estão bem. Claro que não o faço, mas a vontade de saber delas é enorme.
Beijinhos e força. Há coisas com as quais temos de nos conformar, mas temos de continuar a estar atentas e a tentar utilizar todo o tempo com eles da melhor forma.

Anna72 disse...

Gosto de te ler sobretudo pela capacidade que tens de me deixar sem palavras.

Acredito que não deva ser nada fácil não os teres contigo permanentemente.

Beijocas e força para esta nova fase.