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Durante todo o tempo de duração deste problema da infertilidade, nunca fui pessoa de pedir ajuda aos "céus". De alguma forma parecia-me pouco razoável, que uma pessoa com boa saúde, com bom emprego, com uma família toda ela saudável e sem problemas pudesse recorrer ao desespero de solicitar ajuda divina, para um problema, que quer queiramos ou não, não é de "vida ou morte". E por isso, nunca, em ocasião alguma, nem nos meus momento mais sombrios eu pedi para poder gerar uma vida dentro de mim, para poder ter o privilégio de ter um filho.
Sempre achei que se esse privilégio tivesse de me ser concedido seria, senão é porque não estava destinado a ser, e guardei as minhas preces para momentos mais sérios e delicados da minha existência. Não que o facto de não conseguir gerar um filho não seja um assunto sério, nada disso, simplesmente acho que não é a razão una e fundamental da vida de qualquer pessoa. E, perante pessoas com problemas de saúde graves a morrerem nos hospitais, famílias sem emprego a viverem à míngua, ou crianças a serem mortas à pancada... O meu problema era de facto muito pouco relevante.
No entanto, desde que carrego estes pequenos seres dentro de mim, a postura mudou, e a peço constantemente nas minhas orações a graça de poder gerar uns filhos saudáveis, perfeitos, e que me seja dada a capacidade de criar pessoas de bem. A partir do primeiro momento que vemos aquelas "saquinhos" de vida dentro de nós muda toda a nossa postura, e vivemos só preocupadas com eles: Se a gravidez vai correr bem, se vamos conseguir levar a gravidez a termo, se eles vão ser saudáveis, perfeitos, etc, etc.
Acho que a nossa função de mães começa naquele exacto momento, para não terminar nunca mais. Noutro dia aconteceu-me um episódio caricato: Estava a dormir e cerca das 4 da manhã, ouvi uma travagem seguida de choque mesmo em frente a minha casa, acordei sobressaltada, e não quis ir ver o que se passava pois os acidentes impressionam-me imenso. Calculei que fosse algum jovem de regresso de uma noitada bem bebida que tivesse tido aquele acidente, e pensei que aquele sossego que tenho agora durante as noites, em que posso dormir descansadamente pois sei que a familia está toda reunida e em segurança, acabará a partir do momento em que nasçam os meus filhos. A partir daí serão poucas as noites inteiras e descontraídas que terei, até ao resto da minha vida, eles são parte de mim e o meu pensamento estará sempre com eles.
Depois dos acontecimentos dos últimos dias, em que mais uma vez vimos o destino manifestar-se da sua forma mais cruel, o peso da realidade submergiu-me. Como sabem, eu sempre disse, desde o primeiro momento do meu positivo, a guerra não está ganha, foi só mais uma pequena batalha que se venceu. É evidente que continuo a pensar o mesmo, mas inevitavelmente, ao sabor do tempo que passa, ganhamos mais confiança e aligeiramos um pouco a pressão a que estamos sujeitas. É evidente, que não devemos aligeirar. Eu não sou a típica portuguesa, ou seja eu não julgo que "acontece só aos outros", acho que o que acontece aos outros é muito possível que possa acontecer-nos a nós, até porque nós não somos em nada superiores aos outros, somos feitos da mesma matéria e concorremos com as mesmas possibilidades.
Então ontem fomos a Fátima, fui queimar 2 velas pelos nossos pipis, e pedir para eles a protecção divina. Pedi por nós e por todas vós, para que possamos prosseguir a caminhada sem mais sobressaltos e que cheguemos ao fim esperado. Se não o conseguirmos, que nos seja dada coragem de enfrentarmos o que nos estiver reservado sem revolta, e com força.
Beijos a todas