terça-feira, junho 22, 2010

Será sorte?!

Hoje quis cá vir... Hoje, apetece-me dizer algo, apetece-me escrever. Hoje, sinto uma tristeza interior que precisa de sair.

Muito se te falado da crise, do desemprego, do aumento dos impostos e mais recentemente do futebol (que faz esquecer, ao que parece, tudo o resto), e bla bla bla. Mas, ninguém se lembra de falar da pobreza de espírito da maior parte do "povinho" e que é a meu ver o nosso principal problema.

Na escola do gémeos, anda um miudo, o JP, é lindo como o sol, lourinho, olhinhos azuis, muito querido. É sempre dos primeiros a chegar, por isso sempe reparei nele, porque já lá está sempre quando eu vou deixar os gémeos.

Mais tarde, comecei a reparar que a dita criança (mais novo do que os meus), ia todos os dias por volta das 7h45 e era entregue por uma empresa de transportes de crianças, sendo essa mesma empresa que o ia buscar também ao fim da tarde.

Esse facto chocou-me. Lembro-me de ter pensado de imediato em que tipo de pais seriam aqueles que não tinham tempo de ir levar e buscar o filho à escola, um filho de dois anos e pouco entregue a uma pessoa estranha todos os dias. Quem é que se dava ao trabalho de ter um filho para lhe dar tal abandono.

A minha dúvida era se eram pais muito ricos e com muito trabalho ou se seriam pais pobres. Mas como o transporte ainda é caro, parti do princípio que os pais deveriam ter algumas posses para tudo aquilo e que seriam de facto pessoas desinteressadas.

A verdade é que nunca me cruzei ou vi a criança com alguém com quem partilhasse afectividade, a não ser com as auxiliares, e mesmo nas festinhas e reuniões a que fui nunca reparei no facto daquele miúdo estar sem ninguém. Sabem como é: Com 2 filhos a disputar a atenção, dois pares de braços, duas carinhas larocas, muita disputa, só tenho olhos para eles e para conversar com as outras mães minhas amigas que por lá estão.

A semana passada, tivemos a reunião do fim do "ano lectivo". A educadora passou um filme com fotos de todas as actividades realizadas por eles durante o ano e das "ditas festas" e convívios com familiares que fomos tendo, e aí de repente apercebi-me do denominador comum a todas aquelas fotos e filmagens. Aquele menino estava sempre sózinho: Sózinho quando todos os pais receberam o presentinho e pintaram as suas mãos junto das dos seus filhos; Sózinho quando as mães receberam o presentinho e voltaram a pintar as mãos junto das dos seus filhos; Sózinho quando os avós foram com eles passear ao Horto Municipal; Sózinho quando chegava de manhã e ia embora à tarde... E mais uma vez, naquela reunião em que estávamos não tinha lá ninguém.

Não me contive a no fim perguntei à Educadora (particularmente claro). Perguntei-lhe a razão daquela criança estar sempre sózinha.

O que ela me disse não constituiu uma grande supresa para mim. Apesar do factor "tem dinheiro para pagar a uma empresa de transportes" não estar a bater certo. Aquela criança é um caso social: O pai preso, a mãe recebe o famoso rendimento mínimo, não trabalha, tem mais duas crianças filhas de outros pais (uma mais velha e uma recém nascida para além do JP), pelas quais recebe mais não sei quanto da Segurança Social. Não paga nada na escola porque é uma IPSS; Não tem disponibilidade para acompanhar o filho apesar de não trabalhar e tem disponibilidade financeira para apesar de morar perto da escola pagar a uma empresa para ir levar e buscar aquela criança e provavelmente a criança mais velha também.

Lamento!

Lamento pela criança, a quem pelo que me disseram nem fraldas manda para a escola (já autorizei a usar das dos meus filhos); Lamento que nem agradeça a roupa que as educadoras lhe vão dando; Lamento que eu seja das que tenha de pagar para que esta pessoa tenha um filho atrás do outro e lhe paguem para ficar em casa sem trabalhar e mais grave ainda não prestar assistência aos filhos; Lamento que como esta existam muitas e muitas e muitos outros a quem se paga para não trabalharem... Sobretudo lamento pelo homem que esta criança de hoje vai ser amanhã... Pelos demasiados homens e mulheres deste que teremos amanhã...

Até para nascer é preciso ter sorte.

Beijos a todas

16 comentários:

Anónimo disse...

É verdade, querida! Para nascer é preciso ter sorte:(
Este teu texto comoveu-me...não fosse mãe e não andasse, nos últimos tempos, com tanta vontade de o ser de novo.
É triste...revolta...
bji gde aos 4*2

Barriguita disse...

há quanto tempo!!!

estou de lágrimas nos olhos ao ler este teu relato (ai as minhas hormonas), mas infelizmente há muitas crianças assim.

Sorte dos nossos, que tem o afecto que necessitam e tudo o que precisam.

Beijinhos para a M. e o L.

Lebasiana disse...

E eu lamento imenso que acha TANTOS JP neste mundo! E ainda mais lamento o facto de haver pessoas que têm tudo para ser pais maravilhosos e ainda não o conseguiram!

O mundo é injusto e pobre, sobretudo, de espírito!

beijocas nossas... com saudades!

Marta Casal disse...

Subscrevo inteiramente as tuas palavras.
Lamento ser uma das muitas pessoas que adoraria ter um JP na sua vida...mas que, infelizmente, a vida, ainda não teve coragem de dar.
Lamento mais ainda que sejamos nós a contribuir para que haja tanta gente a procriar indiscriminadamente, porque sabe que assim conseguitá dinheiro facilmente...
Mas, no final de contas, percebemos que é o próprio sistema que incita estas situações...

Anna72 disse...

E as crianças é que pagam sempre pelos erros (estupidez) dos pais...

Enfim...

Já tinha saudades dos teus textos ;)

Beijocas!

Angela disse...

Olá, seja bem aparecida !!
Também lamento muito. Acreditas que na sala da minha Ritinha está uma miúda mais velha que ela, cuja mãe se virou para mim e disse-me que a filha dela ainda não tirou as fraldas porque ela não tem tempo para essas coisas !!
A miúda vai fazer três anos, achas normal ??
Também lamento,não podemos fazer muito mais, não é verdade ?
Beijos a todos

Ruby disse...

Minha querida nao deixas de ter razao, se toda a gente tivesse um pensamento correcto, lutassem pela vida as coisas s eriam bem diferentes, mas enquanto o estado apoiar vai haver sempre quem viva a conta desses rendimentos, só é pena nao darem a devido Amor essas crianças, isso sim é muito triste, é de lamentar

bjs

Grilinha disse...

Ai...rapariga.

Que dor de ler isto.
Por isso é que apesar de saber que o meu JP não é o menino mais sortudo do mundo, pelo menos esse azar não tem...

Tantas vezes que me sinto culpada pela minha pressa, mas lá vamos conseguindo chegar a todo o lado...
Ficamos doidos, mas nada fica por fazer.

Não quero comentar muito mais, mas espero que o menino no fundo seja feliz e que tenha a atenção que precisa (embora que pelo relato pareça ser difícil). Se este relato doí de ler, imagino como deve doer presenciar.

Beijinhos

PA disse...

Pegando nas suas palavras,
“ Lamento que eu seja das que tenha de pagar para que esta pessoa tenha um filho atrás do outro e lhe paguem para ficar em casa sem trabalhar e mais grave ainda não prestar assistência aos filhos; Lamento que como esta existam muitas e muitas e muitos outros a quem se paga para não trabalharem..”.
permita que lhe faça uma pergunta:
Estaria disposta a empregar uma pessoa com 3 filhos pequenos com todas as condicionantes que isso traz em termos de ausências laborais?
Analisando as suas palavras publicadas num post datado de 31 de Julho de 2009, creio que não me é difícil adivinhar a resposta
Quem tem o atrevimento de ter filhos sem ter uma boa estrutura familiar que lhe fique com eles quando estão doentes, não tem direito a um emprego!
Mais revoltante é serem essas crianças que um dia mais tarde, terão de trabalhar para pagar as reformas de quem lhas negou aos próprios pais!

Sem Desistir disse...

Cara PA,
Infelizmente, essa pessoa de quem fala, que tem 3 filhos, não quer trabalhar. Asseguro-lhe que aufere um rendimento superior ao meu que cumpro integralmente 8 horas/diárias, por vezes mais...sem que me compensem por isso. Conheço de perto casos, em que as pessoas preferem ter mais um filho, porque sabem que assim vão ter mais algum no fim do mês. Presenteiam os filhos com gelados e guloseimas no café quando recebem o rendimento e nos restantes dias, mal têm para comer...porque o dinheiro não estica, existem despesas a ser pagas, como água, luz, mas também os vícios, como cigarros e toma do pequeno almoço no café...
Não me compadeço com este tipo de pessoas que escolheu viver a vida desta maneira...no entanto, revolta-me que à custa dos meus descontos e de tantos outros, sejam consertadas situações de pobreza de espírito, isso sim, revolta-me imenso.
Revolta-me ver pessoas que não pagam, por exemplo, o condomínio, porque são coitadinhos, têm muitos filhos...mas até vemos que podem ter telefone fixo e telemóvel, internet, roupas novas e cabeleireiro todas as semanas...no entanto, o rendimento mínimo não é penhorável, por favor!!!!
A caminhar assim, discordo quando diz "Mais revoltante é serem essas crianças que um dia mais tarde, terão de trabalhar para pagar as reformas de quem lhas negou aos próprios pais!", mas ainda vive na ilusão de que estas hoje crianças serão futuros homens de trabalho? Acha que com esta educação, estas crianças terão boas bases para ter objectivos na vida? Acha mesmo que estas crianças vão querer estudar? Acha mesmo que estas crianças vão querer mais tarde estar integradas na nossa sociedade?
Não creio cara Pa.

Susana Pina disse...

Faltam-me as palavras.
Eu que luto há 20 anos por um filho.
Que tudo tenho feito inclusivé criar todas as condições para ele/a e depois vejo estas injustiças divinas opu chamem-lhe o que quiserem.
Também lamento tanto por esta criança. A culpa vem de cima, dos nossos governates que têm tanta pena das mulheres que engravidam unicamente para tirarem algum proveito monetário. Lamentável é pouco.

Um bj grande (já tinha saudades de te ver por cá)
Susana

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