sexta-feira, julho 31, 2009

Férias

Se há coisa que me enerva é "carpição". Sempre fui uma mulher prática e objectiva, com tudo bem delineado na minha vida, e quando me surgem certo tipo de pessoas fico possessa, fula mesmo.

O tema que vou abordar é polémico, mas dentro da polémica, não deixa de ser actual e bem real. Quero falar acerca da maternidade e do trabalho, acerca das nossas obrigações para com os filhos e as nossas obrigações laborais.

O meu sentido de responsabilidade, desde sempre me levou a pensar, que para ter um filho teria que ter reunidas certas e determinadas condições laborais e pessoais. Perspectivei antecipadamente todas as opções para a criança e só quando achei que estavam reunidas essas condições, avancei para a "execução" (o que se passou a seguir não vem ao caso). É demasiado evidente para mim, que se não tivessemos eu ou o pai um horário compatível, uma situação laboral compatível, e todas as outras planificações bem definidas (quem fica com as crianças, em que horários, etc), jamais avançaria para ter um filho (a não ser que acontecesse claro).

Quando os meus filhos nasceram, fiquei "de baixa" alguns meses. Isso a juntar com a licença de maternidade e as férias, iria fazer com que num dos meus locais de trabalho, as pessoas que trabalham comigo tivessem de ficar sem férias até Novembro daquele ano. Para que tal não acontecesse, fiz das minhas "tripas coração", e em Junho, tinham os meus filhos dois meses e meio e fui fazer um mês para que pudessem tirar quinze dias de férias cada um. Em Setembro, voltei a ir trabalhar para que pudessem ter mais férias em tempo de Verão e porque o trabalho não azeda, mas precisa de ser feito regressei ao local fisico de trabalho um mês e meio mais cedo (local fisico, porque em casa sempre trabalhei).

A culpa que me acompanhou nessas alturas foi muita, mas a certeza de que apesar de os meus filhos serem o que de mais importante tenho, o meu trabalho e o dinheiro que dele advém também se reveste de muita importância, até porque pão, amor e uma cabana só mesmo nos filmes.

É indescritível a sensação de deixar um filho, ainda que por umas horas. Quem é mãe sabe. Mas a vida tem de avançar, e não se compadece com essas coisas. As empresas têm de avançar, de facturar, de rentabilizar, e ninguém quer saber se temos filhos ou não, e no nosso trabalho não podemos deixar afectar pelos nossos problemas pessoais.

Quantas vezes vim trabalhar quase em claro? Quantas vezes vim cansada e desmotivada? Quantas vezes com o coração apertado porque o L está com febre ou a M está "choquita"? São imensas, já lhes perdi a conta. Mas vim, porque o mundo não pode parar, vim porque outras pessoas dependem de mim, vim porque tinha de vir.

Actualmente tenho uma das pessoas que trabalham comigo de licença de maternidade, desde Fevereiro. Licença essa cumprida escrupulosamente, o que levou a que os outros que ficaram tivessem uma sobrecarga horária e semanal muito grande (eu incluída claro).

Em empresas pequenas, que privilegiam a formação do seu pessoal, é sempre dificil arranjar substitutos temporários para as pessoas que se ausentam pela grande especificidade da tarefa, pelo que há sobrecarga dos que estão a trabalhar. Evidentemente não se retiram os direitos ás pessoas, nem se exige mais do que aquilo que se pode exigir, o que se passa a seguir tem a ver com a consciência e a postura de cada um.

Agora, quando nós sabemos que existem pessoas a trabalhar "non stop" durante cinco meses consecutivos, e uma semana antes da data de apresentação ao trabalho pedimos mais uma semana de férias, tira-me do sério. Juro que sim. Quando me começam com o choradinho que não conseguem deixar o filhinho, e que o filhinho até está muito habituado, passo para o outro lado.

Será que os filhinhos das outras pessoas são mais importantes que os meus?! É que para elas estarem a semanita de férias com os filhitos, os meus até estão doentes e eu não posso estar com eles... Eu até estive doente e tive de vir trabalhar... Porque a vida continua, porque o mundo não pára, e sobretudo porque preciso de trabalhar.

Depois admiram-se que os homens ganhem mais, e que as empresas não queiram contratar mulheres.

É lamentável, ter que lembrar ás pessoas, que sim, que sou mãe, e até a dobrar. E que também eu passo pela privação dos meus filhos, e que ainda assim venho sempre trabalhar, com boa cara e cabeça no sítio, porque se a não tiver no sítio vamos todos nós e nossos filhinhos para o fundo de desemprego, e que sim que fico até mais tarde se for preciso, e que tenho de fazer tudo quando chego a casa, e que não, não morri até ao presente de saudades e cansaço, e TENHO DOIS FILHOS!

Depois vem a lengalenga, de que até tenho as avós que tomam conta e o pai que vai buscá-los e ajuda a dar banho e tal. Mas, que me desculpem, se tinham um horário estipulado há anos, e não tinham apoio de fundo dos avós, tios ou parentes, deviam ter pensado nisso antes de terem filhos, porque esse não é um problema que possa ser resolvido por mim. Certo e sabido é que nenhum de nós pode continuar a desdobrar-se por causa dos problemas familiares dos outros. E as pessoas que assim pensam e sentem, têm duas opções ou vêm trabalhar com pés e cabeça ou ficam em casa a tomar conta dos filhos, agora virem para o local de trabalho carpir e chorar "baba e ranho", por amor de Deus...

Eu depois de cinco meses e meio "non stop", com semanas de seis dias, vou finalmente descansar e dar colo aos meus filhos um dos quais está com uma gastroentrite (depois do outro ter estado a semana passada), eu própria, estive com uma esta semana (o vírus correu a casa toda). Vamos gozar umas merecidas férias.

Beijos a todas

11 comentários:

Anna72 disse...

As pessoas, por vezes, dão a ideia que o que queriam era estar em casa, fazendo a vidinha delas e que o dinheirito no fim do mês fosse parar à conta.

É certo que se a lei confere certos direitos às pessoas, eles são para aproveitar mas, na realidade do nosso tecido empresarial, constituido na sua maioria por micro e pequenissimas empresas, tem de imperar o bom senso. Se não se fizerem sacrifícios em prol dos objectivos da empresa, é como tu dizes, o instituto do emprego é o destino mais provável (para aqueles que podem recorrer a ele). O problema é que as pessoas se esquecem disso com muita frequência.

As melhoras dos pipizes e boas férias ;)

Anónimo disse...

Eu nem comento... sou responsável por uma empresa espanhola em Portugal que tem 40 pessoas a trabalhar, quase todas melheres... e o dia a dia é no minimo caricato!!! Esqueçem-se que eu tb sou mãe e têm as desculpas mais loucas para apresentarem nos diversos momentos em que se ausentam por causa ...dos filhos!!!
Ah! E Claro, eu como sou responsável e tenho mais regalias(leiam ordenado mais elevado e carros) não faço mais do que a minha obrigação...

Só que passa por tudo isto consegue compreender e aceitar o que escreveu!!

Boa férias para a familia!!
Alexcardoso

Sem Desistir disse...

Ainda há quem só olhe para o seu próprio umbigo...
Boas férias.
bjos

Ana disse...

Hoje foi feita uma reunião de colaboradores onde nos foram indicadas penalizações nos prémios associados aos salários para quem chega atrasado e falta sem justificação, e a distribuição desses valores pelos que tenham avaliação muito boa.
Se por um lado adorei a ideia, sendo que tenho quase sempre a avaliação máxima em todos os parâmetros, fiquei chocada com a indignação de alguns que chegam sistematicamente atrasados.
Eu trabalho desde os 17 anos e tenho quase 34 anos... faltei 1 mês quando perdi o meu primeiro filho, e 1 dia porque tive um acidente de carro, vim tão nervosa para casa pela falta de profissionalismo das pessoas... e ainda tive de ouvir: "como é que ainda te espantas!"

As melhoras dos piquenos.

Beijocas

Susana Pina disse...

Infelizmente nem todos são como nós e só têm olhos para o seu próprio umbigo. Não te arrependas de seres como és.
Boas férias amiga, longe do stress do trabalho e da má vontade dos colegas.
Bjs
susana

Lília disse...

Minha querida,

Não sou mãe, mas compreendo perfeitamente tudo o que dizes. Infelizmente convivo quase diáriamente com esse tipo de atitudes. Saem mais cedo porque os filhos isto, chegam mais tarde porque os filhos aquilo, batem o pé para tirarem férias em determinado mês porque os filhos têm férias do colégio...
E fazem-no porque pessoas como eu acabamos por ceder e porque não quero prejudicar o meu trabalho nem o dos meus colegas.
Chego a achar que se calhar este tipo de pessoas se acha melhor pai/ mãe que o resto que se esforça, que independentemente de ter um filho que deu uma má noite estão presentes a horas, que trabalham a sério e que estão sempre disponíveis.

Atitudes...

Beijos e fico feliz por te saber ainda por aqui :-)

Mamã Petra disse...

Como entendo o que dizes, quando tive a minha filha do meio, era a unica responsavel de uma empresa com 7 talhos em vários mercados de Lisboa, quando digo responsavel digo responsavel por tudo, desde pagamentos a funcionários, fornecedores, recebimentos de clientes, encomendas, inventários, facturação, horários tudo, tudo e tive de planear tudo até ao mais pequeno pormenor, transferi o escritório para casa e um dos motoristas trazia e levava as coisas, mas não era sufeciente, sempre fui pagar os ordenados pessoalmente e os fornecedores iam todos um dia por semna receber e era eu que lá estava para pagar, trabalhei toda a licença de parto de casa, sim porque era possivel, apesar de ir ao escritoro regularmente, e a minha filha é muito feliz e não perdeu nada nem eu nem ela, se fosse para o desemprego é que perdia.
Ser responsavel nem sempre é o ideal, mas sabe bem dormir com o dever cumprido.

Beijinhos e tens muita razão.

Bem Me Queres disse...

Eu sou uma das previligiadas que trabalha exclusivamente com homens e que por ter sido a única a ter filhos me mimaram ao longo do ano que estive ausente da empresa, primeiro pela gravidez de risco e depois pela licença de maternidade. Julgo que o facto de conhecerem a minha luta por um filho contribuiu mt para que me poupassem de aborrecimentos profissionais.
Como responsável pela equipa, trabalhei a partir de casa sempre que possível também por sentir que lhes devia isso. Apesar de evitarem incomodar-me com questões da empresa eu própria tive vontade de me envolver.
Mas sei que nem sempre é assim. Tenho colegas com as quais não trabalho directamente, mas que percebo que não se inibem de exigirem tudo tendo por justificação os filhos. Ainda que isso prejudique os outros. "Eu sou mais eu" e isso é o que prevalece na mente de algumas pessoas.

Espero que as férias estejam a correr bem. Amanhã rumo a sul para a 1ª experiência de praia das M&Ms!!!

Beijocas nossas

Angela disse...

Isso tem um nome... egocêntrico.
Beijos cheios de saudades

Sónia e MI disse...

Como te entendo...
O privilégio que tive em estar 15 meses seguidos com a Mi, deixou-me tb estar sem férias quase 9 meses...sim, tive férias em Dezembro e desde aí ..nada!
Vejo colegas a queixarem-se do cansaço, do que custa chegar a casa e ter tudo para fazer, e ainda terem o/a filho para tratar e que precisam tanto de uns dias de férias... e eu penso, como de facto ter sido mãe sem pai, tb me deu uma grande ajuda. Sou desenrascada, não preciso que homem nenhum me abra a porta de casa, só porque levo 2 sacos e uma filha de 2 anos e meio nas mãos...se precisava de férias? MUITO! Mas Dezembro está quase aí...e depois então terei as férias desejadas e merecidas, sem precisar de queixumes e lamechisses.

beijocas grandes!

Time disse...

Percebo perfeitamente a tua maneira de ser e de ver o trabalho, tambem me esforço bastante por o meu trabalho, mesmo hoje já estive com a minha filha no hospital na hora de almoço com 40º de febre e estou aqui a esta hora a fazer noite no meu trabalho, porque se eu ficasse com a minha filha como eu gostaria, o meu colega faria 3 noites seguidas no trabalho, e se fazer noite sim noite não já custa, 3 seguida nem imagino, mas para que as coisa corram assim também têm que existir da parte dos patronato boa vontade e algum á vontade para comnosco. Eu já trabalhei num local 13 anos onde dei tudo por tudo, onde fiz um cirurgia com anestesia local e no dia seguinte fui trabalhar porque precisavam de mim, onde fiz outra cirurgia de anestesia geral e fui trabalhar com pontos e me deixaram todo o dia de pé a atender sozinha, começei a abrir um pouco os olhos e a ver que se calhar não mereçiam o esforço e a dedicação que eu estava a dar aquela casa. Claro, nem todos são iguais e agora estou novamente a ter confiança no novo local de trabalho, axo que mereçem o que aqui faço e dão valor ao meu trabalho, assim vale a pena lutar por o trabalho, mas quando vemos ingratidão para comnosco não vale.
Bom amiga boas férias.
Beijocas