quinta-feira, maio 14, 2009

Mais teorias acerca da educação

Se há coisa que detesto e me tira do sério são fedelhos mimados, cheios de artefactos electrónicos de última geração, com roupa ostentado as marcas em grandes letras, cabelo penteado à "moda" e cara de quem comeu e não gostou.

Estes são os pequenos tiranos, pequenas miniaturas de adultos, a quem os pais se esfalfam para conseguir agradar sem tal seja visível a olho nú.

Vivemos, todos nós (ou pelo menos a grande maioria), num grande circo. Corremos feitos loucos de um lado para o outro e andamos sempre apressados. No meio disto, ficam os nossos filhos. Crianças inocentes, que nem sequer pediram a ninguém para nascer. Tem-se filhos pela pressão social, tem-se filhos porque acontece, tem-se filhos porque sim. No entanto, na maior parte das vezes nem sequer temos tempo disponível para nós, quanto mais para os filhos.

Colocam-se os filhos nos infantários e/ou amas, ainda mal seguram o pescoço, ficam ao cuidado de terceiros durante 8,9, 10 ou mais horas todos os dias. Levam-se para casa para acumular com o banho, jantar e outras imensas lides domésticas que nunca mais acabam. A paciência é menor do que um copo de água, o cansaço é imenso.

Neste cenário, assistimos a pais que se afogam na culpa: Porque não têm tempo, paciência e disponibilidade... Vemos pais que tentam comprar com dinheiro o tempo e disponibilidade que não têm para lhes dar. Vemos erguer crianças egoístas, viradas para si e sem grande conhecimento significado do valor do dinheiro e da palavra não.

Conheço casos de putos que pedem aos pais para comprarem isto ou aquilo porque até só custa 1000 ou 1500 euros, como se estas quantias fossem irrisórias ou pequenas. E o pior é que não sabem, nem conseguem lidar com a resposta não. Já não conseguem... E os pais esfalfam-se, fazem dívidas, mas não conseguem dizer que não aos meninos, não querem que eles se sintam mal porque até nem têm aquilo que só custa 1000 euros e o amigo do lado tem.

Fui criada na época do não. Numa época em que o pai trabalhava, a mãe ficava em casa, e os putos eram contrariados porque sim. Havia algum dinheiro, mas não se faziam dívidas para comprar uma televisão. A mentalidade era preparar as crianças para o "dia de amanhã".

Desde muito nova partilhava tarefas domésticas com a minha irmã, arrumávamos o que era nosso, passávamos a ferro, ajudávamos na arrumação da casa, preparação de refeições e em tudo o que nos era pedido. Depois ainda tínhamos tempo para irmos fazer os "deveres", e ás vezes ver um pouco de televisão, televisão essa que tinha uma chave e só se abria em ocasiões especiais.

As roupas, eram confeccionadas pela costureira da terra, e tínhamos uma ou duas melhores para aqueles dias festivos. Os nossos brinquedos eram umas bonecas que iamos recebendo, só nas ocasiões festivas, as quais com alguma imaginação íamos vestindo e despindo com indumentárias fabricadas por nós na máquina de costura lá de casa. Quando começamos a saber ler e escrever, os presentes eram livros, mas sempre e só nas alturas festivas, não havia cá "vamos ali e compramos isto ou aquilo". Tenho colecções de livros fabulosas dessa época. Vem daí o amor pelas letras.

Os trabalhos da escola eram feitos por nós, sem ter o pai ou a mãe de atalaia a vigiar se os fazíamos ou não. Se vinha uma repreensão da professora por não termos feito isto e aquilo ou algum teste com má nota, era castigo na certa. Era aquele o nosso "trabalho" e desde logo tínhamos de o fazer bem feito, não havia presentes por termos boas notas, era este o resultado que devíamos ter pronto.

Tirei carta aos 18, tive carro, mas ia para a faculdade de autocarro e o "meu" carro só saía ao fim-de-semana com a kilometragem controlada.

Se gostei deste regime? Não e sim.

Acho que talvez algumas coisas fossem exageradas, porque até nem viviamos mal. Porque podíamos ter mais "vida boa". Mas, sem dúvida foi importante para a minha formação enquanto ser humano, enquanto mulher, enquanto profisional.

Com as minhas crianças, tento de alguma forma conciliar as coisas. Não estão no infantário, estão com as avós, não vão para lá ás 7 da manhã e não vou buscá-las ás 7 da noite. Vão há hora que acordam e depois de tomarem o pequeno almoço, tento sempre estar com eles ao almoço, para os mimar um bocadinho e para eles matarem saudades, e vou buscá-los ás 17h30 ou 18. Em casa, é por conta deles, fique o que ficar por fazer, o trabalho não foge.

Em termos materiais, é tudo muito a conta gotas, tento não dar em excesso, até porque eles nestas idades querem é muito amor e carinho.

No futuro, tenciono colocá-las numa escola pública. Quero que convivam com o bom e o mau, o rico e o pobre. Não sou nada a favor das escolas privadas. Por um lado acho que há mais facilitismo no ensino, e por outro o convivio com "elites" não será nada benéfico para as mentes em formação. Devem desde cedo distinguir o bem do mal saber conviver com ele e sobretudo verem qua há alguns que têm mais coisas do que eles, mas outros que têm menos.

Já têm a noção do dinheiro (tostões), e que para se ter coisas é preciso ter dinheiro, e que para ter dinheiro o pai e a mãe têm de ir trabalhar. Quando vamos a qualquer lado, e querem isto ou aquilo (agora andam na fase dos carros de moedas, e das bolas com brinde lá dentro), basta que eu diga que não tenho tostão e eles aceitam que não podem ter.

É claro que ainda são muito novinhos, e que quanto maior for a sua percepção do mundo e de tudo o que existe, maior será a tentação e a vontade de posse. No entanto, penso que com um pouco de bom-senso e algumas lágrimas, conseguiremos chegar a um ponto de equilíbrio.

Beijos a todas

8 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Stardust...
Já acompanho teu blog há algum tempo... Tb eu passei por um problema de infertilidade e foi isso que me trouxe até ele.
Como sempre, esse post traz um texto muito bem escrito onde partilho de boa parte das opiniões.
E pq somos todos diferentes uns dos outros, não podia deixar, hoje de deixar aqui meu comentário a este post.
A minha filha tem 18 meses e está no infantário desde os 5 meses... Pq papá e mamã têm que trabalhar, têm clientes para atender, têm horários e responsabilidades a cumprir... E tb pq os avós não estão por perto para olhar por ela.
Há coisas boas e más num infantário. É certo que se tivesse escolha, não a tinha deixado lá aos 5 meses. Mas, agora, aos 18, sim... O infantário faz-lhe muito bem: desenvolve-a, ajuda-a a conhecer regras, partilhar, põe-na a conviver com outras crianças. Sou, sim, apologista dos infantários a partir dos 12 meses...
E não é por descaso aos filhos que muitas vezes, com o coração apertado e a lágrima no canto do olho, somos pais forçados a entregar os nossos filhos a terceiros.
Parabéns pelo blog, que sempre acreditei ter um texto de opinião valente e sincera. Só que nesse campo não pude concordar. E quis expressar meu pensamento.
Luciana Fernandes

Angela disse...

Olá !!
Mais uma vez não podia estar mais de acordo contigo. Fui para o infantário com três anos e acho que não me fez falta nenhuma antes disso. A minha Ritinha está lá desde os 5 meses e se eu pudesse era a primeira coisa que eu mudava na minha vida.
O que vale é que eu e o meu F. temos alguma agilidade de horários, por isso ela nunca lá está tantas horas.
Sou filha única portanto como deves imaginar nunca me faltou nada, com excepção das milhares de coisas que pedi às quais o meu pai disse que não. Roupas de marca, carro novo aos 18, computadores só para jogar, viagem de finalistas no secundário e a maior briga de sempre as saídas à noite.E quando era não era não e pronto, assunto arrumado. Também fosse qual fosse a explicação eu nunca a ouvia, eu só queria ouvir o sim e pronto.
Para mim a escola da educação será sempre a que tivemos em casa, e espero chegar aos calcanhares dos meus pais nesse assunto.
Beijos a todos

Nina disse...

Cá está o tema que suscitou 2 posts meus esta semana.
Tudo começou quando me deparei com uma cena tristíssima por parte de dois pré-adolescentes que, sem se importarem com as pessoas que estavam ao seu lado, exigiam, aos gritos, que a mãe lhes desse dinheiro para irem ao cinema, comprar pipocas e gomas e, claro, a coca-cola. O que mais me chocou foi a conivência da mãe e a resposta que lhes deu: " Está bem...vão lá! Pelo menos não vão dizer que é só na casa do pai que têm!" (qualquer coisa assim)
Devo ter mudado de cor!
Contrariamente a ti, estrago o meu filho com presentes, sim...ou deixo que o estraguem, por uma razão muito simples: também fui sempre estragada pelos meus pais e familiares...e não me perdi.
Não me lembro do dia em que comecei a desempenhar TODAS as tarefas domésticas...sempre me lembro de o ter feito...e havia tempo para tudo.
Os meus pais estavam a centenas de quilómetros de nós e nós, tal como acontece com algumas crianças agora, estávamos um pouco entregues a nós próprios, porque os meus avós andavam quase sempre no campo. Como tal, sempre que cá vinham- vinham muitas vezes. Por vezes mensalmente- recheavam-nos de tudo, na tentativa de superar o que a distância não perdoava.Amo profundamente os meus pais e agradeço-lhes, com gestos e mimos, todos os sacrifícios que fizeram por nós. Tal como tu, aos 18 anos eu tinha carta e carro, mas eu levava o meu carro para a escola (estava no 12ºano) sem, contudo, me pavonear ou me envaidecer, porque a humildade me caracterizou desde sempre.
Dos 3, só eu tirei curso superior...mas sou a menos bem sucedida, porque me limito, agora com o Gui, a dar aulas. Os meus irmãos são homens de sucesso...muito sucesso, principalmente o meu mano mais velho e nunca, em casa, foram obrigados a colaborar nas tarefas domésticas.
Todos somos diferentes.
Apesar de dar tudo ao Gui, fruto da vida desastrosa que tive e que me obrigou a presentear quem não merecia e também porque adoro dar-lhe presentes, também eu o estou a ensinar a ouvir não. Está mais do que habituado a sentar-se nos carrinhos de moeda, mas como lhe digo que não tenho dinheiro (uso as duas palavras: dinheiro e tostão), diz que o carro não tem pilha porque a mamã não tem dinheiro. Faço questão, por exemplo, de lhe dar uma moeda para a mão para pagar na caixa algum extra que leve para ele....ou algum pacotre de bolachas que queira no momento. Nunca fez uma birra por alguma coisa que queria e eu não comprei...até agora.
Relativamente aos infantários, eles nunca vão tarde, mas o facto de irem mais cedo, porque nem toda a gente tem a sorte de ter alguém que fique com eles (tu tens e eu também tive até ao final do ano lectivo anterior)não os impede de serem bons cidadãos. Quanto a mim, entrar cedo no infantário... vestir roupa de marca...ter bons brinquedos não faz deles maus meninos. Eu sempre tive isso tudo e sou uma óptima pessoa...ou não sou?!:)
O que eu acho importante é não nos deixarmos subjugar por eles.Isso, sim, é realmente importante.
Como o meu pai diz: a palmada na altura certa é tão importante como o pão e um beijo!
Xi coração, amiga e bom fim-de-semana aos 4. Nós vamos às cerejas. Queres?:)

Nina disse...

Tu, complicada?! Claro que não! És preocupada. Isso, sim!
Compreendo-te perfeitamente, até porque, quando olho para os meus sobrinhos (os filhos do meu irmão mais velho), esses, sim, completamente estragados, questiono o dia em que entrarão no mercado de trabalho...o dia em que ouvirem o não.
Desde bebés que nos "torturam"...por culpa dos pais. Na altura de dar presentes, toda a família ficava "doente"...porque os meninos tinham tudo e não sabíamos o que comprar. Há tempos atrás, o meu pai ficou lá em casa uns dias e, ao abrir um armário, para procurar uma toalha, deparou-se com caixas e caixas de brinquedos por abrir. A razão não é tão nobre como a tua, acredita. Habituados ao exagero, já nem se davam ao trabalho de abrir aqueles que à primeira vista não lhes agradavam.
Ele com 10, quase 11 e ela com 8, há muito que têm telemóveis de topo de gama e TODAS as consolas de jogos que existem- penso que são 5 (a última vez que lhes comprei uma prenda, pensei em comprar-lhes um jogo para a Playstation, mas receava que já o tivessem. O meu sobrinho mais velho tranquilizou-me ao dizer que poderiam sempre trocar por outro jogo para outra consola. Fiquei literalmente chocada ao saber que as tinham todas!)...cada um, claro.O Pc portátil, último grito, e o plasma tb não podem faltar.
Quando os presentes são dinheiro, o meu sobrinho mais velho lança aquele olhar de desdém, quando a coisa não lhe agrada.
Adoro os miúdos, mas são do mais mal-educado que existe e só ainda não tiranizam os pais porque o dinheiro é muito e a vontade de mostrar que existe é ainda maior.
Eu detestaria que o Gui fosse assim. Apesar de lhe dar muita coisa (nada parecido, obviamente), também me preocupa o amanhã e não quero que se transforme num tirano.
Como disse ontem, os meus pais presenteavam-nos muito...também exageravam, mas não a este ponto.
Sempre nos habituaram a ouvir o não e eu lembro-me que quando íamos a algum lado não fazíamos birras e éramos muito educados. Recordo-me, também, que tínhamos o hábito de pedir para o mano "olha que linda bonequinha para a mana!"-diziam eles.Lol. Havia uma grande cumplicidade...muito mimo, que ainda hoje se partilha. Parecíamos gémeos (sabes bem do que falo!:))
Adiante! Gosto muito de ti e não te acho nada complicada, sua tonta!
Quanto às cerejas, e se fosses lá a casa buscar?:) Eu levo! Estou a falar a sério!!
Manda sms, se não te importares de fazer uma viagem para o lado de lá:)
xi coração aos 4*2

Nina disse...

P.S: qd falei em sobrinho mais velho referia-me ao mais velho destes dois meninos.:)

Luna disse...

concordo com que escreves-te acho que facilitamos demasiado o caminho deles, depois eles não dão valor nem tem noção da dificuldade das coisas isso é mto mau.
bjinhos
Luna

Bem Me Queres disse...

Ainda hoje falava com uma amiga sobre a vida de hoje, os pais de hoje e as criança de hoje. Revejo-me nas tuas palavras. Felizmente em minha casa tb nunca faltou nada, mas fui habituada a ter regras, a lutar por aquilo que quero.
Tb eu tenho a felicidade de poder contar com os meus pais para cuidarem das M&Ms. Sem dúvida que é um previlégio que mts infelizmente não têm.
Beijocas nossas

Time Traveller disse...

Concordo totalmente com o que escreveste!

Talvez por não ser mãe, não costumo opinar muito sobre este assunto... mas defendo o que defendes!

Também acho que os miúdos de hoje lidam muito mal com a frustração e iso se deve ao facto dos pais não saberem dizer NÃO!

Sinceramente... quem devia levar uma chicotadas no lombo eram os pais! Demitem-se do seu papel... não querem saber... enfim!

Beijoca!
Rodelinhas