Lido mal com a morte, qualquer que ela seja, nem que seja a singela morte de uma flor.
Fui apresentada a ela com apenas 15 anos. Numa idade em que se acredita que vamos viver para sempre e que todos aqueles que tenham mais de 20 anos já são velhos, quis ela apresentar-se levando-me um grande amigo.
Na altura, inocente, não sabia que a ausência permanente de alguém é algo que não esquece, a dor da despedida atenua mas, permanece lá escondida. Acho que foi ali que cresci, naquele momento em que fazia um teste de história de Portugal, em que alguém me sussurou: "O S. já deve ter morrido, vieram buscar os primos..." - naquele momento em que as lágrimas cegaram os meus olhos percebi a fragilidade da vida. Dois amigos ontem cheios de vida e planos, hoje mortos e sem retorno.
Numa época em que as minhas amigas escreviam nos seus diários "à querida Kitty" eu escrevia ao meu amigo morto num acidente estúpido.
Se ainda hoje me lembro? Claro que sim, foi um acontecimento marcante na minha vida, foi a fronteira do meu crescimento como ser humano, foi ali que percebi que existiam limites na vida e que não éramos indestrutíveis.
Hoje vai a enterrar um outro colega de outros tempos, em 3 meses adoeceu e morreu. Colega de escola, deixou orfã uma menina de 4 anos da qual tinha a custódia depois de um divórcio...
Não lido bem com a morte, principalmente agora que sou mãe, só penso naquela menina que vai crescer sem pai... Olho para os meus filhos e penso que será deles se eu ou o pai lhes faltarmos, ou os dois... Não lido nada bem...
Beijos a todas
PS: Por cá os preparativos vão de vento em popa, a mãe com torrentes de ranhoca a sair pelo nariz e com a voz fanhosa (constipação), gémea nº 1 também ranhosita, e gémeo nº 2 também. Vai ser lindo vai!