Este texto anda cá dentro a levedar há já algum tempo, o assunto não é actual, porque passado, ao mesmo tempo não é repetitivo porque nunca falei nele. Parece-me que seja talvez esta a altura de deixar fluir o pensamento, e passar a escrito o que anda cá dentro a bailar.
Reporto-me ao último mês de gravidez, da minha claro. A razão de só agora estar a escrever, tem a ver com a razão pela qual durante este período não fui muito descritiva, e tem basicamente a ver com o estado físico e mental que me acompanhou durante 36 semanas de gestação dos meus filhos.
Compete talvez esclarecer aqui, o interregno literário a que submeti este blog durante a gravidez, porque depois do nascimento todas sabem porquê.
Em primeiro lugar, quero dizer que a gravidez não foi um estado de graça para mim. Foi um estado de ansiedade profunda aliado a um mal estar físico permanente. Se por um lado estava feliz por estar grávida (muito), por outro lado os enjoos, o permanente mal estar faziam com que andasse sempre muito por baixo. Outra vertente era a ansiedade permanente e o medo de não conseguir levar o barco a bom porto.
Porque se numa gravidez dita normal, se acontecer algum azar, as pessoas dizem: -"Vamos tentar de novo" - e fica tudo bem, no meu caso (no nosso caso), um incidente significa o fechar da porta, ou então o início de mais uma saga de grandes oscilações físicas e psicológicas.
De uma coisa tinha a certeza, quer conseguisse ou não levar a termo a minha gravidez, para mim era o fechar da porta. Não me ia sujeitar mais vez nenhuma ao processo doloroso e esgotante de nenhum tratamento de fertilidade. Não conseguia, na minha cabeça imaginar-me a passar por tudo outra vez e foi uma jura que fiz. Se não tivesse que ser não seria, já chegava de brincar aos deuses.
Até Fevereiro não permiti que me dessem nada para eles, e até à véspera de ir para a maternidade nem cadeiras tinha para os trazer para casa. Uma coisa tinha preparada desde as 21 semanas... A minha mala. A deles só muito mais tarde preparei... E nem adiantou de nada, não precisaram de mala.
Devo dizer que apesar da barrigona, dos abanões deles lá dentro, de toda a parafrenália, acho que nunca na minha cabeça esteve muito presente a idéia de que iria ser mãe, andava tão ocupada a ter medo de o não ser que acho que nunca tive verdadeira consciência do que ia acontecer.
Depois um ponto de viragem na minha travessia, foi os incidentes que mancharam a felicidade de duas amigas do coração, ainda que virtuais. Nessa altura achei que não seria justo eu andar por cá a queixar-me das minha incertezas e incómodos, quando alguém sofria tão profundamente e não se importaria concerteza de estar no meu lugar. Achei simplesmente que não fazia sentido, e é essa uma das razões pelas quais não alardeio (muito) as minhas aventuras da maternidade.
A verdade, é que o interregno a que fui forçada por volta das 21 semanas, e me fez ficar em casa em semi-repouso, foi muito desgastante psicológicamente, enquanto que, fisicamente ia vendo o meu corpo a ficar totalmente transfigurado, e ia assistindo à quase falência do meu organismo, para dar vida aos meus 2 filhos.
No último mês de gravidez (das 32 Às 36 semanas), já quase não andava, arrastava-me; Tinha as pernas completamente deformadas de inchadas, e os pés tipo boneco de plasticina onde uma criança tenta colocar uns toros a servir de dedos; Os rins não funcionavam normalmente, porque a sobrecarga a que estavam sujeitos começava a ser demais, a barriga estava tão grande que dizia muitas vezes que se eu fosse mais baixa ao levantar-me caía para a frente; As noites e dias eram em branco pois não me conseguia deitar porque o peso da barriga era tanto que deitada ela ficava a repuxar as costelas e era um incómodo sem descrição possível. A única forma como conseguia dormir era sentada com as pernas esticadas e uma almofada apoiada num ombro, aí descaía a cabeça para o lado, e dormia de pé.
Andava exausta, as ecografias eram um tormento semanal bem como as viagens ao Porto para a consulta, na marquesa tinha de estar sempre a virar-me porque se estivesse deitada de costas começava a perder o ar, de lado doía-me imenso, era uma verdadeira provação. E para além de tudo, a barriga estava sempre dura como pedra. Uma coisa que demorava 10 minutos a fazer, demorava quase 1 hora, era desgastante para mim, para quem me acompanhava e para o médico.
Confesso que vi aproximar-se o dia do parto em passo de caracol, e que se calhar fiz um bocadinho de pressão para que ele fosse realizado naquele dia exacto, realmente não aguentava mais e já que tinha de ser programado e tinha, então deixar fazer só a data de referência, 36 semanas. Se fosse hoje tenho a certeza que teria feito o mesmo, mas no meu íntimo fica a dúvida: Se eu tivesse esperado mais uma semana teria sido diferente?
Para a semana continuo com as palavras soltas, por agora despeço-me com desejos de um bom fim de semana para todas.
Beijos
sexta-feira, setembro 07, 2007
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13 comentários:
Querida amiga
Eu senti tudo o que escreveste..
Os tempos foram iguais, tudo igual..
a nao ser o periodo das 32 semanas até ás 36 que estive no H.
Adorei ler-te - como sempre..
Um grande beijo amiga..
yami
Tive o previlégio de vos acompanhar de perto; não me esqueço desta viagem; Não me esqueço do dia em que "conheci" os teus pipis a bocejar e a dizer adeus naquele ecran; não me esqueço do teu olhar assustado naquele dia em que te preparavas para levar a malita... senti contigo esses medos muitas vezes sem saber a maioria das vezes o que te dizer, as palavras certas para te animar.. Mas estão ai amiga..estão ai uns lindoes!! Toca por isso a dar-nos sempre novidades das aventuras ai por casa, ok??
jocas
tica in hormonia state
Minha querida,
Acredito que tenham sido longos meses de ansiedade e apesar de todos os medos, todo o mal estar físico e psicológiso porque que passaste, a verdade é que conseguiste passar com nota máxima esta provação e tens hoje contigo uma grande riqueza, os teus filhos, que são saudáveis e que a cada dia te dão muitas alegrias.
E tenho a certeza que todos os dias dizes: Valeu a pena.
Beijinhos grandes,
Lita
Olá,
Acredito em cada sentimento por que passas-te na tua gravidez. Sem dúvida, terá sido um período de grande provação, quer física quer psíquica, mas, o resultado compensou de certeza.
Adoro ler-te!
bjs
Amiga, as lágrimas caem....e sabes porquê.
Acredita que fiquei mt feliz no dia em que vos fui visitar ao hospital. Percebi que nem tudo são infortúnios e que histórias com final feliz existem.
Agora goza bem os momentos fantásticos que vives com os teus filhos, pois sei o qt te custou concebê-los.
Beijinhos doces
Já tinha saudades de visitar!
Continuo a adorar ler-te!
:)
Visita as três meninas gémeas:
http://astresmeninasgemeas.blogspot.com/
Bom domingo
Beijinho
Passei pelos mesmos sentimentos e desconfortos fisicos a única diferenla foi que a minha gravifez não era gemelar e mesmo assim a Margarida nasceu às 37 semanas!!!
Beijinhos aqui do meio do Atlântico!!
Sani
Um beijinho
Cris
Em parte sei o que sentis-te durante a gravidez, com uma grande excepção, eu sou daquelas que foi dizer e fazer, ou melhor, pensar e engravidar, mas o medo de que algo corresse mal esteve (apartir dos 5 meses) sempre presente, não consegui aproveitar a gravidez. Se eu sofri, imagino como não te terás sentido tu.. um grande beijinho
Amiga passei cá para te deixar uma beijoca docinha.
As tuas palavras soltas prendem-se completamente a atenção e devoro-as sempre com avidez.
Nunca passei por isso que descreves mas compreendo perfeitamente os teus sentimentos, agora passados a desabafos.
Agora que tudo está mais calmo, toca a aproveitar ao máximo esses 2 filhotes lindos e a partilhar connosco o seu crescimento.
beijinhos
Eu sinto muito que como a minha gravidez foi muito desejada e passamos pelos ttt, que não tenho o direito de me queixar, pelo menos na opinião dos outros claro. Dizem-me logo "mas não era isso que querias, andaste dois anos a lutar por isso ??"
Sim era o que eu mais desejava, dispensava os enjoos, a azia, as dores nas costas, as hemorroidas, enfim..e para ti com gêmeos deve ter sido mil vezes pior.
Adoro os teus relatos, identifico-me imenso com as tuas palavras, o que quer dizer que devias escrever um livro um dia.
Beijos grandes
Como continuo a adorar ler-te! E faço nova vénia rasgada à tua sinceridade.
Andei uns dias sem grandes visitas e hoje lembrei-me que estava a sentir algo que já tinha lido... "Onde?" No teu blog, há uns tempos, mas deixei a meio.
Depois continuarei. Para já, estou-me a rever nas tuas palavras.
É bom sentir que não sou "um bicho raro", mas custa, caramba!
Fica com um beijo enorme!
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